O calor de mais de 35ºC não impediu que uma multidão, estimada em cerca de 2 milhões de pessoas, saísse às ruas de Belém do Pará para celebrar o Círio de Nazaré, a maior festa católica do mundo.
A procissão começou após a missa das 6h, realizada na Catedral Metropolitana, ministrada pelo arcebispo da capital paraense, Dom Alberto Taveira Corrêa. Em seguida, a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré percorreu os 3,6 kms até a Praça do Santuário, onde a romaria acabou por volta do meio-dia.
Há mais de 200 anos, a procissão do Círio de Nazaré atrai multidões às ruas de Belém, com romeiros vindo de todo o Pará e de outras partes do Brasil para cumprir promessas à Nossa Senhora de Nazaré, chamada carinhosamente de Nazinha pelos fieis.
A procissão deste domingo, a última de uma série de manifestações religiosas que começou há várias semanas, foi marcada pelo calor acima do normal, representando um desafio para os promesseiros que seguiram a romaria segurando a corda.
Calor intenso
O médico Flávio Freire, de 46 anos, que participa pela 12ª vez como voluntário da Cruz Vermelha no Círio, destacou que as altas temperaturas aumentaram os casos de desidratação, tornando necessário um preparo adicional da equipe de atendimento aos devotos.
“Tivemos uma demanda maior do que o habitual em termos de desidratação. Tanto que nós pedimos suporte de água para hoje. Isso foi bem visível e notório em relação a estatística do ano passado”, detalhou o médico ao g1.
De acordo com a Defesa Civil, uma das ocorrências mais frequentes foram os desmaios, visto a má preparação dos devotos de Nazaré.
“O que leva principalmente a esses desmaios e a má alimentação das pessoas e o calor excessivo”, descreveu o coordenador da Defesa Civil, Denilson Bahia.
Imagem percorreu várias cidades
A imagem peregrina percorreu várias cidades paraenses, com várias romarias, incluindo a romaria fluvial, a romaria rodoviária que parte do município de Ananindeua (PA) até Belém e a moto romaria com milhares de motocicletas.
No sábado, 7, ocorreu a chamada Transladação, que é a procissão que segue o caminho inverso do Círio e que contou com a participação estimada de 1,5 milhão de fiéis.
O ponto alto dos festejos, porém, acontece tradicionalmente no segundo domingo de outubro, quando a corda do Círio, com seus 800 metros de comprimento, é carregada junto com a imagem peregrina pelos devotos.
Neste Círio 2023, foi a primeira vez que os fieis carregaram uma corda fabricada no Pará e com matéria-prima amazônica, a malva, cultivada por agricultores de mais de 20 municípios paraenses.
Promesseiros agradecem
Muitos devotos compareceram para agradecer por graças alcançadas. Rilson Cardoso crê que foi abençoado e levou a esposa e a filha para juntos agradecerem pela casa própria.
“É muita fé, eu vim lutando com minha esposa há um tempo pra gente ter nossa casa própria e conseguimos. É muito emocionante, inexplicável. Só gratidão”, descreveu o autônomo para a Agência Pará.
A gerente de marketing, Ruthlene da Costa foi à procissar para agradecer por sua saúde.
“Trouxe minha família e todos nós viemos agradecer pela minha cura. Fiz meu tratamento com muita fé, acima de tudo. Ela me abençoou”, compartilhou a devota.
Já a jovem Isadora Neves, advogada e estudante de medicina foi vestida de jaleco, em reconhecimento pela oração ouvida.
“Eu pensei que não ia conseguir passar no vestibular. A cada ano é mais maravilhoso, não tem explicação. Só quem está aqui pode sentir o amor da nossa mãe. Assim eu vou para terminar o curso e venho pra sempre porque ela é muito maravilhosa, ela faz milagres”, declarou a promesseira.
O Círio é uma manifestação católica dedicada a Nossa Senhora de Nazaré e é realizado há 231 anos em Belém. Ele foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial pelo Iphan e declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.