Por Fabrício Queiroz
A qualidade do cacau do Pará se tornou um atrativo para o surgimento de novos negócios que aliam a geração de renda com a proteção da floresta e da biodiversidade. Em meio as comemorações da Páscoa, o Pará tem muito do que se orgulhar, afinal as amêndoas paraenses ganham prêmios internacionais e encantam até o presidente francês, Emmanuel Macron, ao mesmo tempo que ajudam a fortalecer comunidades locais como a Acaráçu, no município do Acará, onde um grupo de oito mulheres vem se destacando no ramo da fabricação de chocolates.
O cacau é uma espécie nativa da Amazônia. No Acaráçu, por exemplo, o fruto pode ser facilmente encontrado em diversas propriedades, no entanto o aproveitamento maior era da polpa. Até que em 2021, em meio à pandemia, uma oficina oferecida pelo chocolatier César De Mendes e pela especialista em produção de chocolate, Luciana Monteiro, da Ara Cacao, mostrou novos horizontes para a comunidade.
As oito participantes da formação resolveram colocar em prática os ensinamentos e assim surgiu as Guardiãs do Cacau, um empreendimento coletivo que tem como foco a produção de chocolate a partir do cacau nativo. Elas são o elo final da cadeia que envolve ainda outros moradores nos processos de cultivo, colheita e fermentação.
“À medida que a gente foi se aperfeiçoando e aprendendo com eles, a gente foi transformando a oficina em empreendimento. Vimos que dava para empreender. Começamos a vender o nosso chocolate dentro da comunidade até chegar na participação em feiras, ao nosso ponto de venda em Belém e à criação do nosso portfólio de produtos”, resume Luciene Gemaque, coordenadora e responsável pela união das Guardiãs do Cacau.
Em apenas três anos, o projeto avançou rápido. No início, toda a produção do chocolate Acaráçu era feita na cozinha da mãe de Luciene, mas há cerca de um ano a fabricação passou a funcionar em um espaço exclusivo para isso, em uma antiga indústria de beneficiamento de palmito que existia na comunidade.
De lá saem sachês de chocolate com teor que varia de 50% a 70%, além de barras de chocolate, barras de 100% cacau e amêndoas de cacau caramelizadas, compondo um leque de oito produtos no total e que já podem ser encontrados em Belém e outras capitais brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Produção crescente
A fábrica das Guardiãs do Cacau conta atualmente com capacidade para produção de 200 kg de chocolate por mês, porém com as demandas crescentes pelo chocolate do Acaráçu, a expectativa é que a fábrica gere até 2 toneladas ainda este ano.
“O que mais chama atenção é a capacidade que a gente teve de aproveitar uma semente que era jogada fora e transformar em produto que as pessoas gostam e valorizam”, comenta Luciene.
Para ela, a experiência das Guardiãs do Cacau é um exemplo de como é possível na própria relação tradicional da população local com a natureza as soluções para os desafios socioeconômicos da região e para conservação da biodiversidade da Amazônia.
“É importante valorizar o conhecimento local, a força e a capacidade que o território e a sua gente têm para encontrar soluções para as questões climáticas, as vulnerabilidades e para valorização da diversidade cultural. Reconhecer isso é valorizar um trabalho coletivo que mostra que a união de várias pessoas pode proporcionar desenvolvimento para a comunidade”, ressalta a guardiã.