Por Fabrício Queiroz
Apreciado dentro e fora do estado, o queijo do Marajó é um dos produtos únicos que só a combinação das peculiaridades ambientais com a cultura e a sabedoria das populações locais pode proporcionar. Aproveitando os diferencias e o reconhecimento que o queijo marajoara conquistou, os produtores rurais Cecilia e Marcus Pinheiro, do município de Salvaterra, tem levado o produto ainda mais longe, sempre com foco nas boas práticas agropecuárias.
O casal tem raízes na própria região, sendo filhos de famílias que há muitas gerações já viviam da agricultura e da criação de búfalos. Porém, a busca por formação profissional levou Cecilia e Marcus para outros destinos. Ela cursou administração e fez especialização em engenharia de produção e ele se graduou em agrobusiness, nos Estados Unidos. No retorno ao Brasil, no início dos anos 2000, Marcus adquiriu um lote de terra que deu origem à Fazenda São Victor, nome dado em homenagem ao pai dele que já vivia do campo.
A queijaria, no entanto, só começou em 2006, quando Cecilia e Marcus resolveram agregar valor à produção de leite de búfalas. O senso de empreendedorismo, o conhecimento técnico e a valorização da receita tradicional foram os principais ingredientes que fizeram o queijo da Fazenda Victor se tornar uma referência no segmento.
“Brinco que a nossa relação com o queijo e com a ilha do Marajó vem de DNA. Tivemos a oportunidade de trabalhar em outros lugares completamente diferentes, porém nossa ligação com o campo é muito forte. Estamos trabalhando com que realmente amamos”, conta Cecília Pinheiro.
De acordo com os produtores, a qualidade do queijo tipo creme é resultado de uma série de fatores. Um deles abrange as características de solos, de variedades microbiológicas, as pastagens naturais e toda a biodiversidade do arquipélago, que formam o chamado terroir.
Aliado a isso, os empreendedores se preocupam em promover uma boa alimentação e o bem-estar animal na propriedade, assim como o respeito às normas sanitárias, favorecendo assim o desenvolvimento saudável dos búfalos, com menos estresse e menos uso de medicamentos, por exemplo.
“O terroir não é um padrão, muito pelo contrário, é algo que diferencia o nosso leite por seu sabor e sua qualidade, mas sobretudo pela identidade cultural, o saber fazer de nosso mestre queijeiro que traz o conhecimento empírico de gerações de um queijo tradicional deste lugar, dando ao queijo do Marajó essa excentricidade”, acrescenta Cecilia.
Além dos investimentos feitos no cuidado com os animais e na melhoria do processo produtivo, o casal ressalta que outro elemento que impulsionou o negócio foi a conquista do selo de indicação geográfica para o queijo do Marajó. Essa certificação fornecida pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) atesta a origem e a relação do queijo com a identidade cultural da região, o que beneficia não só Cecilia e Marcus, mas todos os queijeiros marajoaras.
“Para os consumidores, os selos asseguram a procedência do nosso queijo, trazendo segurança de comprar um queijo diferenciado, de um terroir que evidencia com nitidez o sabor. Um queijo único, característico da ilha do Marajó agregando valor ao nosso produto. Além de que contribui para a fortificação do turismo para a Ilha, hoje de fundamental importância para seu crescimento econômico”, pontua.
Selo de boas práticas
Com quase 18 anos de trajetória, a Fazenda São Victor também comemora a conquista do selo ARTE, que assegura que produtos de origem animal foram elaborados de forma artesanal e com respeito às boas práticas agropecuárias e de fabricação. Essa certificação, inclusive, permitiu a expansão das vendas para outras capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Recife e Brasília.
Cecilia e Marcus lembram, porém, que as portas se abriram a partir da participação da fazenda em concursos queijeiros, entre eles o Prêmio Ouro do Encontro Nacional de Criadores de Búfalo e Marajó Búfalos em 2017, o 1º lugar em uma competição com mais de 500 queijos artesanais brasileiros e a prata na 4ª Edição do Mondial du Fromage et des Produits Laitiers, realizado na França.
Orgulhosos e confiantes, Cecilia e Marcus já se preparam para mais uma competição. Dessa vez, o casal concorre na 3ª edição do Mundial do Queijo do Brasil, promovido pela associação de produtores de queijos artesanais SerTãoBras, entre os dias 11 e 14 de abril em São Paulo.
“Nossas expectativas nesse próximo concurso são de trazer conhecimentos, de trazer visibilidade, o divulgar o conhecimento de nossa região, trazer amigos para conhecer o Marajó e, assim, contribuir para o crescimento econômico da ilha”, afirma Cecilia Pinheiro.