Uma delegação da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos D. Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns participou na quinta-feira, 20, de audiência com autoridades do Pará, para cobrar soluções a respeito do histórico de violência e impunidade em crimes envolvendo trabalhadores rurais, ribeirinhos e indígenas no Estado.
Composta por juristas, intelectuais, jornalistas, ativistas e voluntários em geral pelos Direitos Humanos, a Comissão Arns passou por cinco municípios onde trabalhadores rurais, ribeirinhos e indígenas convivem com ameaças, violências e mortes, desde o início da visita ao Pará no dia 15 de abril.
O Pará soma uma série de casos graves de violência no campo, como a chacina de Eldorado dos Carajás, do assassinato de defensora do meio ambiente e dos direitos humanos, a líder religiosa Dorothy Stang, a escalada da tensão na terra indígena Parakanã e muitos outros casos emblemáticos.
“Ouvimos muitos relatos pungentes durante as visitas aos cinco municípios, vimos pessoas protegidas pelo programa de proteção aos defensores e muitas mulheres nos relataram diversas situações preocupantes. Nos chamou a nossa atenção o fato das mulheres falarem mais que os homens. Elas trazem as crianças para vermos as condições em que se encontram”, disse Belisário dos Santos Jr., advogado e ex-Secretário de Justiça de São Paulo.
A partir das informações coletadas em campo e dos relatos de vítimas, familiares e lideranças locais, a Comissão Arns concluirá um relatório em 30 dias, que será entregue a autoridades estaduais e federais. Terra Indígena Parakanã – casos de violência sem resposta e ameaça iminente.
Terra Indígena Parakanã sob forte ameaça
Nesta segunda-feira, 24, faz um ano que três jovens não indígenas foram encontrados mortos dentro do território indígena Parakanã. Desde então, moradores de Novo Repartimento, município onde os rapazes moravam, vem acusando e hostilizando os indígenas, com ameaças de morte e até violência física.
A Comissão Arns esteve com representantes do povo indígena Parakanã, que se dizem apreensivos com a possibilidade de ataques violentos contra eles
Viagem e escutas começaram em Marabá
As visitas ao Pará começaram no município de Marabá, onde a Comissão Arns escutou relatos feitos pelas comunidades do sul e sudeste do Estado, no Centro de Formação Cabanagem, que acolhe vítimas de trabalho análogo à escravidão. Com mais de 60 assassinatos no campo em 40 anos, segundo dados da CPT, o município ganhou uma infeliz reputação de impunidade e terra sem lei.
Eldorado dos Carajás: 27 anos da chacina de
Na segunda-feira, 17, a Comissão Arns participou de um ato no Acampamento Pedagógico da Juventude Oziel Alves, em Eldorado do Carajás, para homenagear os 21 trabalhadores rurais que foram assassinados por policiais militares na região, em 1996. Organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), a homenagem marca os 27 anos do crime, que ainda não foi completamente solucionado.
Assassinato de Dorothy Stang
Na terça-feira, dia 18, a delegação da Comissão Arns conheceu o assentamento Irmã Dorothy Stang, no município de Anapu, em homenagem à missionária norte-americana referência na luta por justiça no campo, assassinada em 2005 por pistoleiros a mando de fazendeiros. A repercussão internacional do crime não cessou a violência na região: segundo dados da CPT, apenas entre 2015 e 2019, 19 pessoas foram assassinadas em
Anapu devido à disputa agrária.