Neste verão amazônico, um dos destaques do trabalho extrativista é o da folha de jaborandi. Na Floresta Nacional de Carajás (Flona), em Parauapebas, no Pará, a atividade hoje é exercida pelos 45 cooperados da Cooperativa Coex-Carajás, fundada em 2011.
O jaborandi tem ao menos duas principais aplicações: para as indústrias farmacêuticas e de cosméticos. De suas folhas são extraídos os sais de policarpina, importante componente para o tratamento de glaucoma. O produto também é indicado para tratar a calvície.
Se a extração do jaborandi foi marcada até pouco tempo atrás pela atuação dos atravessadores, com o surgimento da Coex, os folheiros, como são chamados, hoje conseguem garantir sua sobrevivência mantendo a floresta em pé com a venda direta ao principal comprador da matéria-prima, o Grupo Centroflora, no Piauí.
Com isso, os extrativistas conquistaram maior poder de negociação e autonomia.
Outra diferença é que hoje os extrativistas já não exploram a planta de forma clandestina e indiscriminada como nos anos 1980, quando o arbusto era arrancado da terra sem critérios técnicos.
“Antes, os meninos entravam escondido na mata, o guarda florestal os abordava e queimava todas as folhas. Havia uma empresa que financiava tudo isso, colocando em risco a vida do extrativista. Começou tudo errado. Só depois, nos anos 2000, é que houve a necessidade de se organizar. As pessoas antes não tinham entendido nada de como o jaborandi poderia ser extraído de forma sustentável, como é hoje”, afirma Ana Paula Ferreira Nascimento, única mulher extrativista da cooperativa.
A planta, que já esteve na lista de espécies em extinção, passou, então, a ser manejada com equipamentos apropriados por meio da coleta seletiva das folhas.
“Os cooperados se dividem em turmas de 12 pessoas e vão para determinadas áreas da mata. Cada turma passa em média 30 a 40 dias coletando o jaborandi. Eles trazem a folha para o galpão da cooperativa para armazenagem e pesagem. Quando chega a 11 mil quilos, a empresa vem buscar a folha e leva para Piauí, onde há a fábrica de beneficiamento da Centroflora. Depois eles exportam para Europa”, conta.
Vale ouro
A forma de organização por cooperativa dos extrativistas elevou ainda o preço do quilo da folha da planta nos últimos 20 anos, de R$ 0,80 para os atuais R$ 21,50, mas esse mercado ainda poderia ser bem mais explorado comercialmente pelos extrativistas do Pará em razão do astronômico preço que a substância extraída da planta, a pilocarpina, alcança no mercado externo.
“Temos esse sonho de processar a pilocarpina porque hoje somos extrativistas que só vendem a folha, mas quanto está o quilo da pilocarpina? Não sabemos ao certo, mas há relatos de que está em torno de R$ 120 mil. Esse mercado da pilocarpina é bem restrito, é como se fosse o segredo da fórmula da Coca-Cola, guardado em baú fechado a sete chaves”, afirma Ana Paula.