Por Ivana Guimarães
O Pará Terra Boa conversou com Elias Francisco, produtor rural que tem uma propriedade a 15 quilômetros de Altamira (PA), sentido Brasil Novo, e planta castanha-do-pará pensando em deixar sua marca no planeta, já que as castanheiras, também conhecidas como rainhas-da-Amazônia, são protegidas por lei.
Além das castanhas, o agricultor cultiva espécies como cumaru, rambutan, rosa do deserto e fala sobre como a seca afetou sua produção neste mês de setembro. “Nós tivemos um verão atípico, puxado”, lembra. Seu quintal é um tesouro. Essa variedade de frutos serve para melhorar a qualidade do seu solo, diversificar sua fonte de renda e fazer aquela sombra bem-vinda para o pé de cacau.
A história que uma castanheira carrega
Elias diz que daqui a 100 anos quer ser lembrado por plantar castanheiras e preservá-las.
“Eu resolvi plantar a castanha-do-pará por ser uma árvore que ninguém pode derrubar aqui na região. Ela é uma árvore protegida. Então, eu imaginei que, plantando essas castanhas, daqui a 100 anos alguém vai chegar aqui e vai procurar quem plantou. É uma coisa que eu vou passar por essa face da terra e vou ser lembrado porque alguém vai ter que perguntar quem foi que plantou. Então, meus filhos, netos ou quem adquirir essa propriedade vai ter que ver as castanhas e saber que fui eu que plantei.”
Diversidade de culturas
Com uma produção diversa, ele fala sobre cada espécie que cultiva.
“Aqui a gente tem praticamente tudo. Há dois anos, eu passei a entrar na área de cacau clonado e hoje eu tenho mais ou menos 1.100 pés plantados. A gente também tem uma fruta chamada miarina que lá para o sul chamam de bergamota. Temos limão-taiti, manga, produzimos uma fruta chamada rambutan, pitaya, abacaxi, macaxeira e mamão. De 50 hectares, eu tenho 25 que é pastagem com gado branco que complementa a minha renda”, enumera.
“Um dos carros-chefes da produção do meu sítio é a rosa do deserto, a gente trabalha com rosas ornamentais. Temos quatro estufas com rosas matrizes. Aí a gente poliniza, produz a semente, faz as mudinhas para florir e vende”, relata.
Cumaru do Baixo Amazonas
Elias conta que também começou a trabalhar com um cumaru, usado na indústria de cosméticos.
“Os primeiros pés que eu plantei foram o cumaru nativo aqui do Pará. Ele demorou em torno de 12 anos para começar a frutificar e, no ano passado, eu adquiri um que vende no Baixo Amazonas e que produz a partir de quatro anos. Ele é mais cheiroso que esse cumaru da minha região e costuma ser vendido para cosmético e para restaurante lá fora. O primeiro que eu plantei foi associado com a castanha, e esse que eu plantei agora já é fazendo sombreamento para o meu cacau.”
Verão severo
Sobre as consequências das mudanças climáticas em sua produção, o produtor revela que desde 2015 não presenciava um período tão seco.
“Esse ano eu tive um período de verão aqui na minha propriedade que nos afetou muito. Desde 2015, não tinha dado um verão como esse. Nós tivemos um período de 29 dias sem chover e foi complicado. Se eu não trabalhasse com irrigação aqui, eu tinha tido um problema sério porque quase que eu chego a perder o cacau e as pupunhas. Então, assim, esse ano nós tivemos um verão atípico e muito puxado, mas graças a Deus tem uns dez dias que choveu e aí normalizou, mas mês de setembro foi puxado aqui pra nós”, analisa.