Ivana Guimarães
A vida de quem trabalha no campo não é para qualquer um. Quem resume é Maria Iderivânia Oliveira, mais conhecida como Tia Jane, de 57 anos: “Morar na roça é muito bom, tem muita fartura, mas também é bem difícil, a rotina é puxada”, diz. Moradora de um trecho da BR-230, que fica entre Altamira e Brasil Novo, ela cultiva espécies como mandioca, abacaxi, banana, cacau e milho e, aos sábados, ainda vende produtos como bolo de macaxeira e puba no Mercado Municipal de Altamira.
O dia começa cedo, como o de muitos agricultores familiares paraenses. Por volta das 6h30 ela já inicia suas atividades. Enquanto seu esposo se encarrega de tirar leite, ela cuida das galinhas, dos carneiros e dos porcos. No intervalo da manhã até o meio-dia, Jane se dedica à cozinha, preparando o almoço. Já na parte da tarde, ela faz os produtos que vende na feira, como os doces de leite, banana e mamão.
Ela explica que sempre procura utilizar ingredientes naturais e caseiros em suas receitas. Seu leite vem diretamente do curral, os ovos são caipiras e ela colhe coco e castanha-do-Pará na roça onde vive. Além disso, Jane também trabalha com massas, fazendo pão caseiro, bolachas de queijo e biscoitos de castanha e de nata.
“Se eu vou fazer a bolachinha de queijo, eu faço o meu queijo. A castanha, eu pego no mato. E o biscoitinho de nata, eu tiro do leite que eu fervo. Ai vou guardando, vou congelando. Até dar uma quantia suficiente para eu fazer os biscoitinhos”, diz.
Quando o final de semana se aproxima, a rotina de Jane é ainda mais corrida. Ela começa a trabalhar na sexta-feira de manhã e só termina por volta das 23h. Às 3 horas da manhã de sábado, ela já está de pé, fervendo o leite e se preparando para chegar à feira por volta das 5h30.
Seus bolos mais procurados são o de macaxeira e o de puba. O segundo também é conhecido como bolo indígena e é feito na palha da banana.
“Esse bolo de puba é bem complicado. É diferente do bolo de macaxeira. A macaxeira você rala, coloca os temperos e já vai pro forno. Já o bolo de puba é da mandioca brava. Então eu descasco, lavo, coloco pra pubar uns três dias. Depois eu passo na peneira, coloco no saco, ponho numa prensa aí fica aquele pozinho. Dali eu faço o bolo de puba. Que é uma delícia, né? Ele é muito procurado na feira, então é o que eu mais me dedico”, explica Jane.
A puba é a massa resultante da fermentação natural das raízes da mandioca. Como já publicamos aqui no Pará Terra Boa, ela é considerada um verdadeiro presente dos povos originários.
O horário de trabalho de Jane varia, mas geralmente vai até às 21h. Ela costuma dormir por volta das 22h. Apesar dos desafios e da rotina cansativa, ela encontra satisfação na conexão com a terra.
Ao chegar em casa, ela desfruta de um merecido descanso. Um banho relaxante e uma refeição reconfortante preparam-na para o merecido sono, enquanto sonha com um novo dia de trabalho no campo, com todas as suas demandas.