Por Ivana Guimarães
No último mês, o Instituto Floresta Tropical (IFT), em parceria com o Fundo Amazônia, lançou o documentário “Florestas Comunitárias”, que mostra quatro iniciativas de manejo florestal sustentável em unidades de conservação do Pará. A produção pode ser vista no canal do YouTube do instituto.
Para entender como os projetos de manejo atendidos pelo IFT têm mudado a vida de comunitários das Reservas Extrativistas Verde Para Sempre, Arióca Pruanã, Mapuá e Terra Grande Pracuúba, o Pará Terra Boa conversou com diferentes integrantes do projeto.
“O manejo florestal comunitário nada mais é do que a administração dos recursos naturais da floresta por comunidades locais. São grupos de pessoas que se reúnem para administrar recursos naturais como óleos, sementes e madeira. Muitas vezes ele é muito associado à questão do desmatamento. E aí o documentário traz muita informação de que é possível produzir com a premissa da floresta continuar de pé. Nosso principal objetivo é mudar um pouquinho a realidade dessas comunidades, onde muitas vezes não chega uma orientação de como fazer uma produção mais adequada. E com a mudança dessa realidade sócio-produtiva, aspectos como a renda e a formação melhoram. Dentro da Resex Arióca Pruanã, por exemplo, várias lideranças comunitárias têm curso superior hoje”, afirma Marcelo Galdino, engenheiro florestal e coordenador de projetos do IFT.
Novos horizontes
Para Felipe Cortez, diretor do documentário, o conhecimento abre um horizonte para os comunitários repensarem sua relação com a natureza não só do ponto de vista da exploração econômica dos recursos, mas também de formas de organização da vida por meio do cooperativismo.
“A ideia de manejo aplicado mobiliza essas populações para que elas se tornem senhoras dos próprios destinos. Para que elas revejam seus papéis no meio ambiente não só como agentes econômicos, mas como responsáveis por manter aquela floresta de pé e explorar os recursos de forma responsável. E isso abre postos de trabalho para pessoas que antes estavam só na ponta dos processos de extração, fazendo com que elas se tornem gerenciadoras do processo, se organizando em cooperativas e tendo uma mão de obra mais especializada na comercialização dos produtos, na verticalização da produção e também mais atenta às oportunidades que a verticalização traz.”
Felipe analisa que um pequeno olhar para o modo de organizar o trabalho está fazendo com que os beneficiados do projeto percebam o conjunto de recursos disponíveis e consequente maior autonomia econômica.
“Antes a madeira era extraída de qualquer forma e hoje eles estão tendo a possibilidade de alcançar outros mercados com uma madeira certificada, com entendimento do papel deles na cadeia e isso gera benefícios pra eles. O açaí está sendo revisto também. O valor do açaí e a melhor organização da sua produção está trazendo mais valor para o esforço de trabalho deles, o que faz eles olharem para os produtos que ainda têm na floresta e começar a estudar possibilidades de ampliar essa produção.”
Papel feminino no manejo
Marcelo destaca que o filme valoriza o papel feminino no manejo florestal, já que o projeto incentiva mulheres a tomarem esses espaços de decisão coletiva. Uma dessas lideranças que aparecem no curta é Michele Marques da Reserva Extrativista Mapuá, que atuou como presidente da Cooperativa de Produtores Agroextrativistas dos rios Aramã e Mapuá (COAMA).
“Em 2020, eu estava à frente da cooperativa e foi um trabalho que antes eu só tinha ouvido falar, mas trabalhar assim como líder é uma experiência nova, porém muito boa. Através disso, a gente tem conseguido uma venda melhor de mercado dos produtos, trabalhando ao máximo a sustentabilidade para que outras gerações possam também usufruir do trabalho”, conta Michele.
Janela para o mundo
O diretor do documentário reflete sobre o poder do cinema como ferramenta social que chama atenção para o valor dos povos amazônidas enquanto principais agentes de transformação pelo saber tradicional que carregam:
“Eu acho que, mais do que nunca, o cinema é uma janela para o mundo das questões da Amazônia porque permite, por meio da sua linguagem, que diferentes povos se reconheçam nos nossos dramas locais e ambientais. Nos últimos anos, a agenda ambiental do que a floresta pode oferecer para o mundo foi deixada em terceiro plano e as populações que vivem nesse lugar foram tratadas como subcidadãos. São minorias que têm que se dobrar a vontades maiores. Então, o cinema acessível na internet para uma grande quantidade de pessoas se torna uma grande janela para as questões que nos tocam.”