‘’Lembra do que a tua avó te ensinou’. A frase norteia a vida de Noanny Maia, que comanda a Cacauaré, , ao lado da mãe, Nilce, e das irmãs, Naianny e Neilanny. A empresa familiar de Mocajuba produz chocolates, nibs e granola cheios de sabor e que ajudam a manter a floresta em pé.
Por meio do cacau selvagem nativo de várzea, elas unem a tradição passada de geração a geração com a inovação na produção de amêndoas.
O projeto teve início em 2021 quando, a partir do falecimento do pai por covid-19, as filhas, que tinham uma vida estabelecida na capital, voltaram para o interior para empreender na propriedade da família.
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Em Mocajuba, região em que a cacauicultura é histórica, elas começaram a lidar com um cacau com qualidade de sabor melhor do que os que são plantados em monoculturas de fazenda.
Por influência do movimento de marés, o solo é mais nutrido de microrganismos que fazem essa adubação natural do solo, que consequentemente reflete no sabor do fruto. Então ele é mais gostoso, cheiroso e gorduroso.
“O meu avô foi um dos grandes comerciantes de cacau nativo de Várzea aqui da Amazônia nos anos 60. Então tem registros dentro de biblioteca pública de títulos de compra e venda de cacau assinados por ele. E a minha avó fazia a produção dos doces, licores, geleias e xaropes a partir do cacau e vendia na feira. A cultura cacaueira dentro da minha casa é muito viva porque essa ciência os meus avós passaram para a minha mãe e hoje a gente se apropriou disso’’, explicou.
Vencendo obstáculos
Noanny disse que no início de tudo, a Cacauaré contou com a ajuda do chocolatier Cesar De Mendes, que como já publicamos aqui no Pará Terra Boa, comanda a De Mendes, empresa de produtos com ingredientes típicos da nossa terra, como a castanha. E,desde então, a família desenvolve a produção, sempre tendo que se reinventar para lidar com os obstáculos do ofício.
‘’No ano passado, a gente teve uma grande crise dentro da cultura cacaueira. Aí o valor de mercado das nossas amêndoas foi para o chão. Quando vimos que tínhamos três toneladas de amêndoa de cacau e não havia pra quem vender, nós resolvemos transformar em nibs e em líquor e assim encontramos um público grande e promissor.’’
Dentro das estratégias de negócio da Cacauaré está o turismo de experiência. Desde 2021, elas proporcionavam expedições dentro de sua propriedade, mas hoje a empresa está envolvendo a comunidade no processo, com o objetivo de valorizar a cultura ribeirinha e cacaueira.
‘’Hoje a gente tem em torno de 36 propriedades envolvidas para fornecer o turismo de experiência a partir do Cacauaré. A gente criou uma empresa em paralelo com essa comunidade chamada Canoa e Cacau, que é uma plataforma de experiência ribeirinha para as pessoas terem uma vivência na cadeia: ir lá com o ribeirinho, colher e entender como funciona’’, disse ela.
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Dirblando a crise climática
Em tempos de fortes chuvas, que causam alagamentos e afetam a vida da população paraense, entender os efeitos das mudanças climáticas na produção é um dos maiores desafios dos cacauicultores.
‘’A safra teoricamente já começou, mas lá na nossa propriedade tem chovido muito, então eu tenho visto bastante cacau podre no pé. Cada ano é um ano por conta do avanço dessa crise climática que a gente vive.’’
Como lideranças femininas no meio agrícola, a turma da Cacauaré impulsiona e inspira outras produtoras rurais.
‘’Querem mulheres à frente de negócios no campo, mas não querem que elas falem muito. Então trazer pioneirismo e apresentar projetos inovadores na Amazônia é muito desafiador. É bater várias vezes até você ser ouvida’’, finalizou.