Por Fabrício Queiroz
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em novembro, em Belém, deve ser decisiva para combater os efeitos da crise climática no planeta, mas também pode dar uma contribuição importante para alavancar atividades econômicas baseadas na natureza.
Essa é a aposta de Francisco Samonek, empreendedor social que atua com a reativação de seringais nativos no Pará e a transformação da borracha em calçados sustentáveis. Para ele, a COP30 dará uma grande visibilidade para a bioeconomia da Amazônia.
“A gente vai entrar muito forte na COP. Pensamos em ter a nossa loja em Belém até julho, com os nossos produtos e também com uma marca coletiva com o artesanato e as biojoias criados pelos grupos que apoiamos vendendo nesta loja física. Queremos ter ainda um espaço para atender outras marcas da bioeconomia, a ideia é fazer desse espaço um ‘shopping da bioeconomia’”, adianta Samonek sobre os planos da Seringô.
Inovação
Diferente do sistema de extrativismo e exploração da mão de obra dos seringueiros que marcou a economia amazônica no início do século passado, a startup propõe um modelo em que a extração do látex é inserida na dinâmica da agricultura familiar e oferece uma opção de renda a mais para os produtores e com ganhos superiores aos praticados no mercado.
Além de comercializar a matéria-prima, a empresa também inovou ao criar uma marca de sapatos para agregar valor à borracha das seringueiras nativas da Amazônia.

Funciona da seguinte forma: a Seringô oferece capacitação e estrutura para que as comunidades se organizem e retomem a extração do látex sem abrir mão de outras atividades, como o cuidado com a roça, a extração do açaí, a produção de farinha e a pesca.
Além disso, elas são estimuladas a empreender e criar peças artesanais e biojóias a partir dos recursos disponíveis na natureza. A ideia é somar e não fazer com que as comunidades fiquem dependentes da venda de um único produto.
“A agricultura familiar não pode dispensar dessas demais atividades que estão integradas à floresta. A nossa ideia é desenvolver uma tecnologia social que olhe o seringueiro como um empreendedor social com uma atividade que gera renda e um pagamento pela proteção da floresta”, pontua Samonek.
Atualmente, são mais de 200 comunidades do arquipélago do Marajó envolvidas na produção por meio do projeto Marajó Sustentável, do governo do estado, abrangendo os municípios de Anajás, Breves, Portel, Curralinho e Melgaço. São 1.565 famílias qualificadas e estruturadas para produzir e comercializar o látex extraído.

Demanda por sustentabilidade
Mas a Seringô quer ir além e prevê um crescimento do negócio devido à crescente demanda por sustentabilidade. Para reforçar isso, a startup paraense criou parcerias com duas empresas suíças, que estão desenvolvendo um sistema de rastreabilidade para que o consumidor tenha a garantia de que os calçados são de origem amazônica e que respeitam as boas práticas socioambientais.
Além disso, a empresa conseguiu recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para investir em tecnologia e inovação na fábrica e no laboratório instalados em Castanhal, na região metropolitana de Belém, e também projeta a reativação de mais seringais no Marajó. O objetivo é chegar a uma produção de 10 toneladas de látex e fabricar cerca de 50 mil pares de calçados por mês.

“Vemos que a COP30 vai ser uma janela de oportunidade para que a gente possa se estruturar e dialogar com instituições que estão canalizando recursos para a bioeconomia e para a Amazônia. É um momento importante para dar tração e escala para a implantação do nosso projeto. Até agora, a gente estava indo devagar. Hoje, vejo que vamos pular vários degraus com a COP30”, afirma Francisco Samonek.