“Antes, eu derrubava matas e plantava capim porque, aqui na minha região, o que predomina ainda é o gado. Hoje, o meio ambiente está secando cada dia mais, o pessoal desmatando, sem ter conhecimento de que cacau e açaí, além de serem plantas produtivas e que dão dinheiro para o sustento da família, contribuem para o meio ambiente”. O relato do agricultor Antônio Maurício Batista, de Itupiranga, no sudeste do estado, mostra a mudança de mentalidade de produtores, que veem ser possível conciliar uma produção grande e diversa sem destruir a floresta.
Batista faz parte do grupo de produtores rurais atendidos pelo projeto Inovaflora, desenvolvido pela Embrapa para promover restauração florestal por meio do plantio de espécies nativas em sistemas agroflorestais (SAFs) ou agroflorestas.
Nesse modelo as culturas agrícolas de alimentos convivem com árvores maiores e a proteção da floresta. Um exemplo são os SAFs de cacau, onde a planta é cultivada com espécies como a mandioca ou a banana que crescem e geram renda mais rápido e ainda criam sombras que favorecem o desenvolvimento do cacaueiro.
“Em um olhar rápido, [o SAF] propõe-se a, entre aspas, imitar a floresta. Mas, ao imitar a floresta, ele permite diversidade. Nós podemos ter diferentes espécies compondo esse sistema, como açaí, cacau, uma espécie florestal, espécies alimentares que vão ofertar diversidade de renda. Reconhecidamente, também são sistemas que recuperam áreas degradadas”, explicou o engenheiro agrônomo e chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Walkymário Lemos.
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Esse método adaptado à realidade amazônica pode alavancar ainda mais uma economia que já é expressiva. Um estudo do Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia (OCBio) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), aponta que a receita gerada na região Norte pela produção de soja, milho e algodão foi de R$ 19,8 bilhões, enquanto que os produtos da agricultura familiar movimentaram R$ 24,4 bilhões.
Os ganhos são econômicos, mas também ambientais e mostram que as agroflorestas oferecem uma resposta à crise climática. As pesquisas da Embrapa reforçam que além da recuperação florestal, os SAFs contribuem para a conservação da biodiversidade, a melhoria do solo e a redução das emissões de gases do efeito estufa.
Aliado a isso, os SAFs trazem junto também uma mudança de visão sobre a relação com a natureza e provoca mudanças de comportamento. Maurício, por exemplo, viu a sua área degradada ser recuperada e uma nascente importante para a região ficar mais protegida em apenas quatro anos.
“O gado ficava pisoteando essa nascente e ela veio quase a secar. Fui incentivado pela Embrapa a isolar essa área e plantar as espécies nativas. Hoje, quatro anos depois, a mata fechou de novo por cima e ela voltou a produzir água. Minha produção aumentou, estou muito satisfeito. Abracei essa causa [do meio ambiente]”, destaca.