Por Fabrício Queiroz
Uma reserva de biodiversidade enche de verde e de riquezas naturais 49 hectares da propriedade da família Suzuki no município de Tomé-Açu, no nordeste paraense. Por ali se encontra cacau, açaí, andiroba, ipê, guanandi, ingá, cumaru e outras espécies convivendo com o dendê, carro-chefe dos produtores da região que abastecem as indústrias de palma. Lá, há muito tempo, o monocultivo não é atrativo para os agricultores que viram o desenvolvimento chegar a partir dos sistemas agroflorestais (SAFs).

Filho de japoneses que chegaram no Pará na década de 1960, Ernesto Suzuki viu de perto as transformações na agricultura do município, aprendendo com o pai Koji Suzuki. Na época, Tomé-Açu tinha muitos pimentais e ainda era o maior produtor mundial de pimenta-do-reino, porém logo veio a crise causada pela infestação de fusariose nas plantações, o que quebrou a economia local. Em busca de soluções, os nikkeis (descendentes de japoneses que nasceram fora do Japão) observaram e aprenderam com os quintais produtivos dos nativos para criar o modelo que hoje é conhecido como Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (SAFTA).
Esse é o modelo adotado por Ernesto Suzuki na fazenda, onde o plantio de dendê com práticas sustentáveis dá espaço também para que outras culturas sejam desenvolvidas. O destaque atual é o cacau, cada vez mais valorizado no mercado e que despertou o espírito empreendedor da família que há dois anos lançou a marca Casa Suzuki.

“O sistema de cultivo já vinha sendo feito com SAF. A gente entrou com algumas tecnologias de adubação, com insumos com menos químicos, temos hoje os organominerais e mais técnicas de controle biológico que outrora não tinha. Recentemente, lidamos com a questão da sucessão no meio rural e pensamos na Casa Suzuki como uma forma de envolver essa nova geração, cada um com seus talentos”, diz Ernesto que conta com uma equipe com filhas, a irmã e sobrinhos que colocam a mão na massa.
O trabalho está por trás da divulgação e comercialização dos produtos da Casa Suzuki, como chocolates ao leite e veganos, trufas, licor de cacau, gotas de chocolate e “chácolate”, que são os sachés de uma bebida feita com a casca da amêndoa e nibs de cacau. Atualmente, as vendas ocorrem principalmente no estado, mas a empresa já conta com parcerias em outras regiões do país,
“O dendê tem uma importância muito grande, cerca de 70% da nossa receita é ligada a ele, mas além disso temos a produção de pimenta-do-reino e do açaí. Hoje, o cacau e o chocolate ainda não chegam a 10% porque ainda é muito recente, mas já temos abertura para mercados de São Paulo, Rio de Janeiro e Nordeste, então vemos que temos tudo para aumentar essa participação ainda com o nosso selo de indicação geográfica do SAFTA, que agrega ainda mais valor ao nosso produto”, afirma Ernesto Suzuki.

Para o produtor esse crescimento vai vir com os investimentos que reforçam a missão de um negócio sustentável. Entre os planos estão a montagem de uma fábrica para processamento do chocolate na propriedade, a inclusão da fazenda em uma rota de turismo rural, com trilhas ecológicas e banho de floresta, geração de novos produtos que aproveitam a tecnologia gerada pela bioeconomia local e parcerias com agricultores do município e outras regiões do estado.
“Eu vejo que estamos conseguindo passar esse legado oriental de trabalhar com paciência e pensar no meio ambiente e no cuidado com o próximo e com as pessoas que estão junto com a gente”, ressalta Ernesto Suzuki.