O consumo do açaí é uma paixão dos paraenses. Em Belém, os batedores artesanais do fruto estão espalhados em inúmeros pontos pelos bairros, onde é possível encontrar toneladas de caroços que geralmente são descartados como lixo. Porém, o potencial desse resíduo vem sendo desvendado e hoje se sabe que pode contribuir para enfrentar desafios como o do acesso à água potável.
Um projeto-piloto desenvolvido pela engenheira de produção Ingrid Teles explora essa alternativa com a criação de um equipamento que filtra a água do rio, imprópria para o consumo, com a ajuda dos caroços.
“Ele (caroço de açaí) tem vários poros e, com isso, toda a sujidade, principalmente os sólidos, como barro ou outras coisas, ficam nesse caroço”, explicou a engenheira à TV Liberal.
Atualmente, duas famílias ribeirinhas do município de Barcarena já são beneficiadas pelo trabalho que tem apoio de uma startup. Cada máquina tem capacidade para filtrar até 20 litros de água por dia, mas a expectativa é ampliar o sistema para alcançar até 100 famílias.
“Em casa, tem criança e é bom para nós. A gente não toma uma água suja para depois passar mal do nosso estômago”, conta Elisangela Benjamim, que é atendida pela iniciativa.
Caroço já té utilizado em outro projeto
O potencial de tratamento oferecido pelos caroços de açaí também chamou a atenção do engenheiro Márcio Velasco, que atua na Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Belém. Ele idealizou o projeto Micro Estações de Tratamento de Água (Meta), que desenvolveu uma tecnologia chamada floculante vegetal catiônico em que os resíduos do fruto auxiliam na limpeza e desinfecção da água.
De acordo com Velasco, cerca de 1.400 famílias de municípios do Marajó já foram atendidas e a ideia é que o sistema chegue a mais gente, em especial assentados por programas de reforma agrária.
“O floculante vegetal catiônico à base de caroços de açaí permanece sendo testado em Metas já instaladas no Marajó e Baixo Tocantins. Buscamos parcerias com o setor privado, com objetivo de desenvolver o produto em escala comercial, garantindo acesso a uma tecnologia eficiente e de baixo custo de produção”, destaca.