A onda de calor decorrente do El Niño tem afetado a população de norte a sul do Brasil. Nesse cenário de estresse térmico, os animais costumam sofrer muito, mas essa não é a realidade da Fazenda Marupiara, localizada no município de Paragominas. No local, os efeitos das altas temperaturas são amenizados devido à ampla cobertura vegetal do imóvel que adota a estratégia do sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
Com 4.356 hectares, a fazenda tem 80% de áreas de preservação permanente e reserva legal protegidas, seguindo as determinações do Código Florestal. Já os 20% restantes são destinados à agropecuária.
“A ideia não é só ter mais sombra para proteger da onda de calor. Eu sou a favor de ter alto índice de reserva legal para não emitir mais carbono. O foco maior é biodiversidade. Todos os plantios que fazemos não é só para gerar sombra, é para proteger a riqueza da floresta”, afirma o proprietário Mário Lúcio Costa.
Essa característica preservada garante um ambiente de bem-estar tanto para o rebanho de aproximadamente 1.700 animais quanto para os trabalhadores do empreendimento, conforme avalia o fazendeiro.
“Quando a gente fala de bem-estar, temos que pensar no sentido mais amplo. A gente usa essa ideia para ter mais áreas de sombra para o gado, mas também para promover uma melhor condição para todas as pessoas que trabalham na propriedade”, pontua.
Mauro Lúcio é hoje uma figura de referência no estado quando se trata de pecuária sustentável. Em 2002, ele iniciou o plantio de árvores nativas. Anos depois, quando Paragominas foi alvo da operação Arco de Fogo de combate ao desmatamento e das ações que levaram Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da Carne, o produtor resolveu apostar em uma estratégia diferenciada focada em bem-estar animal, manejo, intensificação de pastagens e preservação de áreas florestais.
O que é e o que se ganha com o ILPF?
Essa abordagem de diversificação da produção, que contempla agricultura, pecuária e silvicultura ou florestas plantadas é conhecida como ILPF. Dentro desse sistema há diversas combinações possíveis, sendo uma delas a Integração Lavoura-Pecuária (ILP), em que os componentes agrícola e pecuário são desenvolvidos em regime de rotação, consórcio ou sucessão.
No caso da fazenda Marupiara, há 880 hectares dedicados à produção rural, dos quais 60% são ocupados principalmente com plantio de soja e 40% com gado. Atualmente, são cinco animais por hectare, mas a meta é investir em tecnologia e chegar a 10 cabeças por hectare. Para o empresário, há muitos ganhos quando se percebe a interação e a complementaridade entre cada segmento.
“Nós precisamos ter aumento de produtividade e um dos caminhos que vejo para isso é recuperar a qualidade do rebanho para que ele possa ser vendido mais jovem. Para isso temos que melhorar a dieta, temos que investir na agricultura para ter grãos e ter um acabamento melhor, procuramos melhorar a genética dos animais, além do incremento na biodiversidade e na questão social. Tudo isso gera agregação de valor”, comenta Mauro Lúcio.
Nesse sentido, o pecuarista diz que pretende ser um agente de uma revolução no campo por meio de um enfoque social. A proposta de Mauro Lúcio é aproveitar as pesquisas e experimentos gerados pelas instituições da região para treinar e capacitar pequenos produtores com metodologias mais produtivas e que sejam aliadas do meio ambiente.
“O nosso olhar tem que ser muito maior. Eu penso que quando você faz boas práticas, os ganhos vão surgindo de vários lados e um deles é a valorização do trabalho. Isso não tem preço”, destaca o fazendeiro.
Por Fabrício Queiroz
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