O segundo dia do Fórum Mundial de Bioeconomia, que ocorre em Belém até a quarta-feira, 20, foi agitado com a participação da ativista indígena Puyr Tembé, pertence à aldeia dos Tembé do Alto Rio Guamá, nesta terça-feira, 19/10.
Diante de uma plateia de especialistas no assunto do mundo todo, Puyr declarou que não existe bioeconomia sem a participação dos indígenas.
Vice-presidente da Federação dos Povos Indígenas do Pará e integrante da iniciativa Voz das Mulheres Indígenas, Puyr defendeu com unhas e dentes que os índios são os verdadeiros protagonistas da bioeconomia, que, grosso modo, significa uso sustentável da terra com geração de renda às comunidades tradicionais e demais participantes de uma cadeia de produção.
“A bioeconomia não se faz só com pesquisadores, mas por quem está na ponta cuidando da natureza, como os indígenas”, disse ela.
Puyr aproveitou a oportunidade para reforçar a necessidade das demarcações de terras indígenas no país, uma vez que o assunto se encontra em fase de julgamento no Supremo Tribunal Federal, ameaçando várias etnias e direitos constitucionais.
“Quando a gente briga por território é pela floresta em pé, é porque somos nós que defendemos a terra contra desmatamento. Não dá para falar do que fazemos há séculos sem nós”, acrescentou ela.
Também gerente de Proteção dos Direitos dos Povos Indígenas da Sejudh, Puyr Tembé puxou a orelha dos organizadores do Fórum pela baixa participação, segundo ela, de povos indígenas nos debates.
“Quero pedir para que organizador do Fórum, nas próximas edições, pense nessa população local”, cobrou.
Conflito
Puyr Tembé é do povo Tembé Theneteraha no município de Capitão Poço, no nordeste do Pará. É nessa região onde foram assassinadas duas lideranças indígenas no último mês, Isac Tembé e Benedito Cordeiro de Carvalho, o Didi Tembé.
Em agosto, Puyr integrou uma comitiva com mais de 6 mil indígenas de mais de 170 povos de todo o Brasil contra o marco temporal pela ocasião do julgamento do assunto no STF, em Brasília. Pelo fato de o tema ser defendido pela Presidência da República, a ativista fez um protesto no palco do Fórum Mundial de Bioeconomia. “Esse país pode ser digno, desde que a gente tire de lá essa coisa que governa o país”, concluiu.
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