“Bom dia a todos do grupo”. Com esta saudação, que faz parte da rotina de milhões de pessoas em todo mundo, Takakudjyti Kayapó, mais conhecido como Takakre, repassa notícias sobre como o mercúrio proveniente do garimpo ilegal afeta as populações de peixes, uma das principais fontes de sustento de seu povo. O indígena faz parte de um grupo dos territórios Mebêngôkre Kayapó, localizados no estado do Pará, que uniu inovação à sabedoria ancestral.
Pelo rio Curuaés, conhecido como Pixaxá pelos indígenas, há uma preocupação constante sobre peixes que possam estar contaminados pelo metal que é utilizado por garimpeiros ilegais para separar minerais em busca de ouro. Por isso, monitores da pesca comunitária medem e pesam os peixes, registrando todos os detalhes em uma planilha, enviada aos demais membros da equipe de estudiosos pelo aplicativo de mensagens.
Troca de informações
As informações que circulam no grupo trazem detalhes como a espécie, o comprimento e o peso dos peixes. Além disso, o horário da pesca e outras informações envolvendo a distância até um ponto do rio também são devidamente anotadas.
“Esse tipo de informação ajuda a medir a saúde da população de peixes”, afirma Alany Gonçalves, bióloga da Unyleya Socioambiental, que trabalha no projeto de monitoramento de peixes Mebêngôkre Kayapó, ao site NPR. “Se eles têm que ir longe para pescar, demoram muito para pegar peixes muito pequenos ou os peixes são pequenos, ou se voltam sem nenhum peixe, isso nos diz muito sobre o que está acontecendo em aquele rio”, explica.
A coleta de amostras de tecidos para testes de mercúrio requer anos de treinamento, sendo uma tarefa examinada por especialistas técnicos que visitam periodicamente a terra Mebêngôkre Kayapó. Contudo, nem sempre os cientistas estão pela aldeia. Por isso, os monitores têm a função de registrar meses de dados de pesca e ainda estimulam outros povos a realizar as mesmas tarefas em aldeias vizinhas e comentar sobre as melhores formas de manter o avanço dos estudos.
Entre dezembro de 2021 e março de 202 , dez monitores coletaram dados de 813 peixes de 28 espécies diferentes. Desses, 29 peixes, carnívoros ou onívoros, e de 10 espécies diferentes foram testados para mercúrio. Todos testaram positivo.
“Assim que vimos os resultados, passamos a comer menos certos tipos de peixe”, diz Bep Ojo Kaiapó, da aldeia Pyngraitire e intérprete do estudo. “Se houver algo que possamos fazer para evitar adoecer, faremos”, conclui.
Fontes: NPR e Olhar Digital