A gente boa paraense é um produto de exportação da nossa terra cujo valor não tem preço. O Seu Guerreiro é um exemplo disso. Hoje com 72 anos, José da Saúde Guerreiro, nome de batismo, nasceu em Faro (PA) e vive há 42 anos em Parintins (AM). Sua Casa das Ervas Medicinais fez dele um homem tradicional conhecido não só no País, mas também no exterior. Para quem não o conhece, Seu Guerreiro se define como um “homem tradicional”, um conhecedor de saberes da Amazônia, do mato.
Em conversa com o Pará Terra Boa, Seu Guerreiro nos contou que se prepara para desembarcar na Suíça no próximo dia 20 de dezembro. “Vou dar palestra para doutores de mais de 40 países, mas, mana, não vou mostrar o pulo da onça para os gringos, não”, se diverte ele.
Quando ele fala “mana”, o assunto gira naturalmente em torno do Pará. Sua Faro natal não é um retrato na parede. Ele conta que está sempre por lá, onde tem família, terra e patrimônio. Muitos de seus clientes são paraenses. Agora, voltar para Faro, “é difícil”. “Minha família toda mora em Faro. Não posso largar meus bens em Parintins agora”, já avisa.
A lembrança de uma Faro distante no tempo está viva na memória de Seu Guerreiro. Ele lembra que perdeu o pai quando tinha 2 anos de idade e passou, desde então, a ajudar a mãe a sustentar a família quando a maturidade assim permitiu. Diz que tirava muita lenha para abastecer os históricos navios construídos no ciclo da borracha que iam de Belém para Faro.
“Os navios eram movidos através de pressão. Tirei muita lenha na juventude. Já morei debaixo de caminhão para ter as coisas, trabalhei muito no mato com a minha família. Sempre digo para Deus: ‘pai, não sei por que estou aqui'”, diz.
Foi a vontade de dar uma vida mais confortável para os filhos que fez com que ele se mudasse para Parintins, emenda. Mas foi nos seringais paraenses que Seu Guerreiro adquiriu os conhecimentos das ervas, raízes e frutos que tanto encantam hoje clientes no Brasil.
“Lembro que cheguei a trabalhar com 725 homens nos seringais. Foi quando conheci o pau rosa e tantas outras riquezas. Essa amizade ficou como uma aliança no meu dedo. Porque, vamos dizer, foi lá que adquiri todo meu saber. Eu aprendi com as pessoas que viviam comigo. No meio de 725 homens, tinha gente com inteligência. A gente precisava trabalhar. Eu não tenho estudo, mas tenho muito conhecimento. Eu aprendi. Tem um ditado que diz que só se aprende apanhando para não esquecer aquilo que passou”, afirma.
Atualmente Seu Guerreiro mantém a tradição de ir para o mato atrás de ervas. No seu quintal, na comunidade de Santo Expedito, coloca as cinco máquinas de sua fábrica para trabalhar logo cedo. “Faço capsula, óleo, pó, trituro. Faço tudo que o cliente me pede. É um lugar de beleza rara, de televisão mesmo. Se contar, ninguém acredita”, conta sobre a terra no interior de Parintins onde brotam os produtos da Casa das Ervas Medicinais.
Segundo relata, seu estabelecimento vende uma média de R$ 300 a R$ 500 por dia e atende todos os mercados próximos, como o de Manaus e Belém. Dá muito paraense? “É paraense aqui que nem presta”, se diverte.
Seu Guerreiro hoje viaja para o Brasil todo com sua bagagem medicinal, mas suas andanças incluem países europeus, como a França, por exemplo, para dar assistência a marcas que trabalham com ervas e essências. É conhecido dentro do Sebrae, por professores de universidades públicas do Pará e Amazonas, bem como por políticos. Diz ele que o prefeito de Itu (SP) ficou bem encantado com sua palestra no Green Rio 2021, em novembro passado.
“A secretária do prefeito me procurou. É porque eu tenho documentação de tudo. Não adianta ter dinheiro no bolso. Eu me respaldo em cima da minha documentação. Vou mandar muda pra ele, produto meu para vender. Tudo legal para botar em loja lá no interior de São Paulo. Eles querem reflorestar a cidade porque parece que Itu não tem mato para trazer oxigênio, não é como aqui na Amazônia”, comemora.
Aliás, Seu Guerreiro ficou em primeiro lugar entre 19 empreendedores da Amazônia do Green Rio 2021, que é um evento anual de bieconomia sediado no Rio de Janeiro.
Fonte da foto: Floriano Lins para o site Amazônia Real