Por Gisele Coutinho
“Acordo às 5h30 da manhã, de domingo a domingo. Tomo meu café e vou colher vitória-régia conforme as pessoas vão agendando comigo que vão chegar”. Essa é a rotina de Dulce Oliveira, que vive no Canal do Jari, na convergência dos rios Amazonas, Tapajós e Arapiuns, em Santarém, oeste do Pará, na típica palafita amazônica, que fica no terreno cedido pelo pai de seu marido, Evandro. Ela conversou com o Pará Terra Boa sobre como sua casa virou atrativo turístico no Pará.
No Jari de águas marrons do rio Amazonas moram seus vizinhos: jacarés, botos, peixes-bois, aves, macacos, cobras, tartarugas e outras espécies. E foi ali o local escolhido para cultivar vitória-régia, que faz sombra para os peixes e alimenta outras espécies a partir das raízes.
Como Dulce é gente dessa terra boa, viu uma renda extra na gastronomia a partir da espécie botânica que enfeita seu quintal. Passou, então, a oferecer aos turistas um menu degustação com vitória-régia, como a moqueca, além de fornecer a matéria-prima para conservas e geleias da marca Deveras Amazônia.
Ao lado da família, tem como outra fonte de renda a criação de gado e galinhas para a produção de ovos caipira. Mas é a vitória-régia que tem feito Dulce ser conhecida pelos turistas.
Ela recebeu apoio da professora Rosa Helena Veras Mourão, do Laboratório de Bioprospecção e Biologia Experimental (LabBBEx) do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Oeste do Pará.
“A Victoria amazônica, conhecida como vitória-régia, é uma espécie que apresenta alto teor de fibras e proteínas. Por este motivo, tem valor nutricional importante, podendo ser uma alternativa para pessoas que não comem carne e precisam de uma fonte de proteínas”, explica a professora. “A espécie tem propriedade antioxidante devido à presença de polifenóis encontrados tanto na folha, quanto no pecíolo”.
Porém, a professora acrescenta que é fundamental o consumo consciente da espécie, para que a mesma não entre em extinção, como tem ocorrido com outras espécies da Amazônia.
“O manejo é de suma importância para o meio ambiente e preservação da espécie”, ressalta.
A relação da empresária Dulce com a professora Rosa é de amizade e parceria.
“Admiramos muito o trabalho desta mulher que sozinha procurou a universidade para validar seu conhecimento empírico. Ela abre sempre as portas do seu jardim e sempre está disposta a colaborar com as pesquisas. E o mais importante: tem curiosidade para saber o andamento das pesquisas”, diz Rosa.
Com certeza, pesquisa científica, preservação da natureza e experiência sensorial andam juntas no jardim de vitória-régia de Dulce.
“No meu ponto de vista, quando falamos em preservar, estamos falando de um conjunto de coisas, que é proteger, observar, cuidar, interagir, cultivar. Isso tudo faz parte da preservação. Ao entrar no nosso local, tem placa pedindo para reduzir a velocidade. Não apenas da embarcação, mas da pressa, da cabeça, de confusões. Reduzir totalmente a velocidade da nossa vida. Isso abre a mente para se ouvir o som ambiente que nossa natureza dá. Isso faz parte da preservação”, afirma Dulce.
Serviço:
Jardim Vitória-Régia (Canal do Jari): a forma mais fácil de chegar ao local é contratar um guia saindo de Alter do Chão. A visita com degustação custa R$ 30 por pessoa e deve ser agendada com antecedência pelo WhatsApp (93) 9182-9492.