Em junho comemoramos o Dia da Imigração Japonesa. O 18 de junho foi escolhido por ter sido a data em que chegou o primeiro navio com imigrantes japoneses, em 1908, no porto de Santos, em São Paulo. Para os paraenses, essa data é também motivo de orgulho. Porque é nesta terra boa que o Brasil tem um dos mais bem sucedidos casos de integração entre a cultura nipônica e a sabedoria popular.
Ele começa em 1929, com a chegada de 43 famílias (189 pessoas) à região do Rio Acará. Uma década mais tarde essas famílias fundaram em 1939 a CAMTA – Cooperativa Agropecuária Mista de Tomé-Açu. Uma parte dessa história é conhecida: foi pelas mãos desses pioneiros que o município se tornou líder na produção de pimenta do reino.
É uma história que tem uma boa dose de acaso, como em todas as boas histórias. No começo do século passado, a viagem entre o Japão para o Brasil acontecia de navio, passando por Singapura e pela África do Sul, na maioria das rotas. Em Singapura, um grupo de japoneses decidiu comprar algumas mudas para tentar o cultivo em nossa terra – que hoje responde por 80% da área plantada com pimenta do reino no País, sendo o maior produtor nacional. Segundo a Embrapa, o Brasil oscila entre o terceiro e o quarto lugar entre os países produtores de pimenta-do-reino.
Mas essa história tem um capítulo mais recente, e igualmente bem sucedido. Após grandes crises econômicas causadas principalmente pelo ataque de pragas, os produtores começaram a questionar se valia a pena investir em apenas um ou outro tipo de cultivo, já que o risco de grandes perdas quando algo dá errado é enorme. Foi quando começaram a apostar na diversidade de culturas por meio do consórcio de árvores frutíferas (cacau, maracujá, açaí, banana, etc.) dentro das áreas onde a cultura da pimenta declinava.
Esse sistema integrado foi adaptado para o bioma Amazônia e denominado SAFTA, que é uma sigla que significa “Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu” (“Sistema Agrofloresta Tomé-Açu”). A aceitação a este novo sistema foi grande porque ele gera receita para os produtores no curto, médio e longo prazo. Como o SAFTA usa muita mão de obra, nos locais de produção houve aumento do emprego rural por hectare na comparação com o emprego médio gerado em áreas de pastagens.
Graças a uma usina de beneficiamento de óleo e manteiga, a economia circular tornou-se realidade, permitindo o manuseio das sementes de maracujá e cupuaçu que inicialmente eram jogadas fora. Agora são vendidas para a indústria cosmética brasileira e há também a perspectivas de crescimento da produção de óleo de andiroba.
Atualmente as polpas das frutas são vendidas principalmente no mercado regional, mas a cooperativa já vende para o restante do Brasil e até para o Japão. A maior parte dos óleos e manteigas, por sua vez, é vendida para uma empresa cosmética brasileira.
O desempenho da cooperativa é o resultado do capital social, valores compartilhados pelo grupo e solidariedade. O sucesso do projeto transformou o SAFTA naquilo que os especialistas chamam de tecnologia social – algo que traz benefícios econômicos e também sociais. Os impactos do trabalho em grupo fortaleceram os produtores e espalharam os benefícios para a comunidade. E este é o mais recente capítulo de sucesso nesta longa história dos nossos irmãos paraenses-nipônicos.
– Fonte: Climate Smart Institute