Por Gisele Coutinho
Nesta Semana do Meio Ambiente, o Pará Terra Boa destaca o trabalho de quem atua em defesa das nossas riquezas naturais e da gente boa paraense. O Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA) merece destaque porque representa um setor que valoriza povos de terras indígenas, nossas Unidades de Conservação, Territórios Quilombolas, projetos de assentamentos agroextrativistas e de desenvolvimento sustentável.
Os números são robustos, segundo o IBGE, com produção de 8.643 toneladas e R$ 20,8 milhões em valor de produção, em 2020.
Para falar do assunto, conversamos com a engenheira florestal Julianna Maroccolo, secretária executiva do OCA. Na conversa fica evidente a força que o coletivismo tem no momento em que vários desafios se apresentam a quem sobrevive da castanha na Amazônia, especialmente no que diz respeito aos preços do produto. Para ampliar o conhecimento dos extrativistas, o OCA lançou em maio a maior biblioteca virtual especializada em castanha que pode ser acessada aqui. Confira a íntegra da entrevista abaixo.
Qual o papel do Observatório?
O Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA) é uma rede de organizações que atua para desenvolver a cadeia de valor da castanha-da-amazônia, procurando resolver alguns dos seus principais desafios e entraves. A missão é produzir conhecimento e inteligência para esta cadeia e mobilizar seus atores de modo a consolidar um mercado justo, que valorize os povos, populações e comunidades envolvidas e promova a conservação da floresta.
O OCA também conta com o chamado Coletivo da Castanha. Como é esse trabalho?
O Coletivo da Castanha é um braço do OCA, que busca atender um de seus objetivos principais, que é o de consolidar um coletivo de organizações comunitárias, de apoiadores e parceiros comerciais atuantes na base da cadeia da castanha-da-amazônia. O grupo é composto por mais de 60 extrativistas, que representam, pelo menos, 38 associações e 12 cooperativas localizadas nos sete Estados produtores de castanha-da-amazônia.
Foi formado em 2017 no intuito de resolver o problema da ineficiente comunicação a respeito de preços de compra das castanhas in natura direto do produtor durante as safras. Desde lá, o Coletivo da Castanha foi se tornando uma rede de extrativistas e apoiadores que troca informações, através de um grupo de WhatsApp, sobre preço e outros temas relevantes relacionados à castanha, e tem potencial de ser uma representação da base castanheira. Esse monitoramento participativo dos preços possui hoje uma base de dados única, que representa preços praticados em pelo menos 35 municípios e 57 Áreas Protegidas (41 Unidades de Conservação e 16 Terras Indígenas).
Vocês querem formar um sistema de monitoramento econômico e também de previsibilidade da safra? Quando e como isso deve funcionar?
O OCA iniciará a criação e implementação de um Sistema de Informações Econômicas para a Castanha-da-Amazônia (SIE-Castanha). Já foi contratada uma empresa para desenvolver o sistema e estamos no processo de contratar um economista que irá contribuir para esse processo. Não sabemos ainda o resultado que teremos, pois estamos dialogando com diferentes atores e entendendo até onde é possível ir com essa primeira versão do sistema. A previsão é termos um protótipo sendo testado no início da próxima safra.
No Coletivo, o que você observa ser o maior desafio para o extrativista paraense hoje?
Difícil dizer qual o maior desafio do extrativista paraense, pois são muitos os desafios em todos os elos e regiões: invisibilidade dos extrativistas e suas organizações produtivas; a assimetria de informações existentes ao longo da cadeia; o baixo nível de coordenação entre os diferentes atores da cadeia; a necessidade de melhorias em políticas públicas e ambiente regulatório para a cadeia; o baixo conhecimento e valorização do produto por parte de consumidores e sociedade.
No caso do Pará, eu arriscaria dizer que existe uma peculiaridade: é o Estado onde estão as mais antigas empresas de beneficiamento e exportação da castanha. Muito embora isso pudesse contribuir para o encurtamento da cadeia, a existência histórica do aviamento parece ser ainda mais fortemente estruturada no Pará, com muitos atravessadores comprando castanha sem exigência de qualidade e pouco poder de barganha por parte dos extrativistas.
Por outro lado, quais seriam os exemplos mais inspiradores de sucesso no Pará?
Pará é muito grande, são várias realidades. É referência no nome mais conhecido da castanha, a castanha-do-Pará, e é a terra das castanhas grandes, da Calha Norte. Existem muitas iniciativas de referência quando se fala em castanha, como o trabalho da Associação Floresta Protegida e do Instituto Kabu com os Kayapós e o sistema de comercialização da Rede de Cantinas da Terra do Meio.