“A senhora é doutora em pajelança, tem conhecimento do Marajó, sua luta ambientalista vence e perde batalhas, mas a senhora não desiste delas”.
Com essas palavras, a coordenadora do Núcleo e Grupo de Pesquisa Culturas e Memórias Amazônicas (Cuma) da Universidade do Estado do Pará (Uepa), professora Josebel Fares, respondeu ao questionamento de Zeneida Lima, quando a pajé perguntou o motivo pelo qual o Núcleo apresentaria ao Conselho Universitário (Consun) a proposta de lhe conceder o título de Doutora Honoris Causa.
A entrega do título ocorreu em solenidade realizada dia 1/12, no auditório da Reitoria, durante a abertura do XVI Seminário do Cuma e do VI Seminário Brasileiro de Poéticas Orais, cujo tema é Encantarias.
A vice-reitora da Uepa, Ilma Pastana, definiu a cerimônia como um momento nobre, que oportunizou à universidade a entrega desse título para uma mulher com a história da pajé, protagonista de uma série de ações voltadas à educação, como a construção de uma escola com foco na educação ambiental.
Josebel Fares relembrou que a ideia de titular Zeneida como Doutora Honoris Causa surgiu quando o Cuma realizou a quinta edição do seminário, em novembro de 2019, nas cidades marajoaras de Soure, Salvaterra e Cachoeira do Arari. E, quando estavam em Soure, foram visitar Zeneida Lima, na instituição Caruana do Marajó Cultura e Ecologia.
Reconhecimento
Após receber o colar doutoral, o diploma e a resolução do Consun, e dizer sobre a alegria que estava sentindo, Zeneida Lima ressaltou que esse reconhecimento não era para ela, pessoalmente, mas um reconhecimento coletivo. “Não é só Zeneida que recebe esse título. Eu recebo em nome de todos os pajés do Pará”, afirmou.
Na plateia da cerimônia, estavam os integrantes do Cuma, amigos e familiares da pajé, além de convidados da área acadêmica, que reconhecem a importância do saber transmitido por Zeneida, como o professor João de Jesus Paes Loureiro, que recebeu com alegria e respeito, a notícia de que Zeneida receberia da Uepa a honraria.
Para Paes Loureiro, escritor e pesquisador da cultura amazônica, o título de Doutora Honoris Causa a Zeneida Lima de Araújo “em primeiro lugar, é um ato de justiça, social, cultural e ao mesmo tempo, acadêmica, porque o notório saber não está apenas dentro da academia, está fora também, mas compete à academia reconhecer isso. Além do mais, a forma de saber da Zeneida, é uma forma de saber de uma profundidade, que exige que a pessoa seja engajada nele, como é o caso da pajelança, e essa extensão dela para a educação fortalece a dimensão sociocultural”.
Clay Chagas, reitor da universidade, agradeceu à Zeneida, por todo o trabalho realizado e por ter aceitado o título concedido pela Uepa. “Precisamos defender a ciência, principalmente neste momento de negacionismo, mas também os saberes tradicionais, que são essenciais para defender a Amazônia, não apenas em relação ao meio ambiente, mas à cultura”, conclui.
Fonte: Guaciara Freitas, Agência Pará