O Pará Terra Boa tem publicado informações nesta semana sobre o aumento da violência no Estado. Poucos dias atrás, houve chacina em Altamira e com participação de facções criminosas, conforme afirmou o governador Helder Barbalho.
Agora, de acordo com a 36ª edição do relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Estado do Pará liderou o ranking nacional de conflitos por terra em 2021, com 156 casos contra trabalhadores e trabalhadoras do campo brasileiro, indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais. Na sequência aparecem a Bahia (134) e o Maranhão (97). No total, no Brasil, foram registradas 1.242 ocorrências de conflitos por terra, com 670.760 mil pessoas envolvidas. Os dados foram divulgados nesta terça-feira, 17/05, pela CPT.
Entre os principais promotores dos conflitos por terra estão os fazendeiros (25%), seguido por grileiros de terras (19%) e garimpeiros (15%). Já entre quem sofre com os conflitos no campo no Pará, estão, principalmente, os povos indígenas (38%), sem terra (29%) e assentados da reforma agrária (13%).
Por água
O número de conflitos por água no Pará registrou um aumento entre os dois últimos anos: passando de 31, em 2020, para 47, em 2021. E a quantidade de famílias envolvidas nesses conflitos mais que dobrou: saiu de 7.871 e foi para 16.122. Essas pessoas, vítimas dos conflitos por água, em sua maioria são indígenas (43%), depois ribeirinhos e quilombolas, que, ambos, representam 23% do total.
Entre as categorias que causaram os conflitos pela água, em primeiro lugar estão as hidrelétricas (26%), seguido por mineradoras internacionais (21%) e empresários de outros países (15%).
Quais municípios?
Os municípios paraenses com mais ocorrências de conflitos por água são Belém, Altamira e Santarém. No Brasil, em 2021, a CPT contabilizou 304 conflitos por água, sendo 224.540 pessoas envolvidas. Entre todos os Estados brasileiros, o Pará só fica atrás da Bahia no número de conflitos. O Estado nordestino registrou 80 ocorrências de conflitos pela água. Apesar da Bahia ter mais casos, o Pará é o que tem mais famílias envolvidas, mais de 16 mil.
Violência contra a pessoa
Segundo o CPT, foram registrados 35 assassinatos em conflitos no campo no ano de 2021, uma elevação de 75% em relação a 2020, quando foram registradas 20 mortes. Desse total, 11 ocorreram em Rondônia; 9 no Maranhão; Rio Grande do Sul, Tocantins e Roraima registraram 3 assassinatos cada; no Pará e na Bahia foram 2 mortes; Mato Grosso e Goiás com um caso cada.
No Estado paraense, além dos assassinatos de Isac Tembé, da Terra Indígena Tembé, e de Fernando dos Santos Araújo, sobrevivente do massacre de Pau D’Arco, também foram contabilizados 4 tentativas de assassinato; 2 mortes em consequência de conflitos; 18 pessoas ameaçadas de morte; 6 pessoas torturadas; 10 pessoas presas e 13 torturadas.
Nos últimos dias, a líder indígena Alessandra Korap Munduruku tem sido alvo de uma onda de ataques sistemáticos em evidente represália à sua atuação em defesa das terras indígenas e florestas e rios da Amazônia. Na última semana, as redes sociais de Alessandra foram sucessivamente invadidas e sua conta de WhatsApp foi clonada; nos dois casos, os perfis da liderança têm sido usados para disparar mensagens de ódio e difamação, além de ameaças e tentativas de intimidação aos seus amigos e familiares, e de humilhar e desmoralizar Alessandra.
Alessandra é presidente da Associação Indígena Pariri, que representa as 11 aldeias Munduruku no médio rio Tapajós, e vice-coordenadora da Federação dos Povos Indígenas do Pará (FEPIPA). Ela tem sido, na última década, uma das vozes do seu povo na luta pela demarcação e proteção de terras indígenas e na resistência ao avanço do extrativismo predatório nesses territórios e de projetos de infraestrutura, logística e geração de energia, que ameaçam as populações de toda a bacia do Tapajós.
Amazônia Legal
A região da Amazônia Legal, formada por 9 Estados brasileiros, detém boa parte dos conflitos no campo em 2021, como vem ocorrendo em anos anteriores. São 641 conflitos por terra no território, praticamente a metade (49,49%) de tudo que foi registrado no Brasil.
124 conflitos por água estão na Amazônia, o que representa 40,78% do total no País. E 54 conflitos trabalhistas estão nessa região, cerca de um terço do total.
Confira mais alguns números da Amazônia Legal:
Violência Contra Ocupação e a Posse: 77,9% das famílias afetadas por desmatamento ilegal; 87,2% das famílias afetadas por expulsão; 81,3% das famílias afetadas por grilagem de terras; 82,2% das famílias afetadas por invasões de seus territórios.
E nas violências contra a pessoa, 80% dos assassinatos em conflitos no campo ocorreram na Amazônia Legal, são 28 dos 35 assassinatos em 2021.
A publicação “Conflitos no Campo Brasil 2021” será lançada na quarta-feira, 18/05, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Norte 2, em Belém (PA).
Fonte: CPT
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