O cultivo de mandioca e macaxeira é uma atividade que garante a subsistência de muitas famílias do campo paraense. A presença dessa cultura também é forte na comunidade Barreirão, em Castanhal, na Região Metropolitana de Belém. Mas por lá, o plantio tradicional que dá origem à farinha, à maniva, ao tucupi, ao beiju e outras iguarias agora começa a caminhar rumo à inovação com o uso de alimentos biofortificados.
Ricos em ferro, zinco e vitamina A, os biofortificados foram desenvolvidos com a seleção e o cruzamento de variedades vegetais mais nutritivas, produtivas e que pudessem ter o cultivo disseminado entre os agricultores familiares. Algumas cultivares obtidas foram da macaxeira, da batata-doce e do milho, que já fazem parte de algumas plantações na comunidade.
O trabalho começou em janeiro de 2023 por meio do contato da Associação dos Micro Produtores Rurais do Barreirão (Amiproba) com a Embrapa Amazônia Oriental e o sindicato local da Emater. A proposta inicial tinha foco na transferência de tecnologia e na oferta de alimentos mais ricos para a população, porém em pouco tempo o projeto já ganhou novas perspectivas.
Além da extensão rural, o conhecimento sobre os alimentos passou a ser difundido em atividades de horta escolar e inspira o desenvolvimento de uma fábrica, que usa os “superalimentos” na composição de novos itens.
“Vimos um alto potencial na qualidade dos produtos que são ricos em zinco, ferro e próvitamina A. Se você tem um produto que te dá 15% de próvitamina A, no biofortificado você tem de 25% a 30%. Quando isso é implantado dentro de um sistema alimentar, você tem uma substância riquíssima para levar para as crianças, por exemplo”, comenta Cássio Oeiras, que é administrador da Pará Temperos e atua em parceria com a Amiproba.
Como forma de incentivar a adoção das cultivares, Cássio testou a aplicação dos biofortificados na fabricação de dois molhos de pimenta que tem como base a macaxeira melhorada geneticamente. De acordo com ele, em poucos meses de venda, os produtos já conquistaram boa aceitação nos mercados de Belém, Castanhal, Vigia, Colares e São Caetano de Odivelas.
“É um projeto piloto tanto para a comunidade quanto para a empresa, mas, por incrível que pareça, eu já tenho que segurar o pedido porque eu tenho uma demanda maior do que eu consigo produzir”, afirma Oeiras, que também já utiliza os alimentos na elaboração de pães e massa para coxinha.
Apesar do bom indicativo para um negócio de base agroindustrial, Cássio reforça que o objetivo principal se mantém direcionado para oferecer melhores condições para as cerca de 21 famílias do Barreirão.
“Eram famílias que só plantavam mandioca e macaxeira e agora têm a oportunidade de trabalhar com cultivares diferenciadas. É um ganho para o combate à fome oculta, mas também a possibilidade de aumentar a geração de renda”, afirma.
Por Fabrício Queiroz