Por Fabrício Queiroz
Terras indígenas e unidades de conservação são as áreas onde a floresta amazônica está mais protegida graças à atuação de povos e comunidades tradicionais que têm esses territórios como elemento importante para suas culturas, seus saberes e modos de vida. A conservação do bioma e o fortalecimento desses grupos ganhou um importante reforço com as ações do projeto Conexão Povos da Floresta, que em quase dois anos já alcançou 1.345 mil comunidades.
Um kit de conectividade com roteador de alta capacidade, antena de internet banda larga via satélite, celular e computador são os recursos utilizados na iniciativa organizada em parceria entre a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS).
A proposta é ir além da necessidade de ampliar o acesso à internet na Amazônia e desenvolver ferramentas de transformação social para as comunidades atendidas, fortalecendo os direitos à saúde, educação e oportunidades profissionais, entre outros.
“Os povos tradicionais têm um papel fundamental na proteção da Amazônia e dos demais biomas. As áreas protegidas onde vivem os povos da floresta são as mais conservadas da Amazônia. Embora representem um terço da região, apenas 1% do desmatamento dos últimos 40 anos aconteceu nessas áreas. Nesse contexto, a conexão em rede é uma plataforma que permite o empoderamento dessas comunidades e amplia o acesso à educação, saúde, segurança e empreendedorismo”, afirma o presidente do conselho deliberativo do Conexão Povos da Floresta e um dos idealizadores do projeto, Tasso Azevedo.
Três pilares
Para isso, o projeto funciona com base em três pilares principais: implementação da infraestrutura necessária para a criação uma rede local conectada à internet banda larga; a implantação de um sistema de gestão e controle local da rede em cada comunidade; e a oferta de programas de inclusão digital, com ações nas áreas de saúde, educação, empreendedorismo, monitoramento e proteção territorial e cultura e ancestralidade.
No quesito infraestrutura, o Conexão oferece os kits e também suporte para instalação de um sistema de energia solar fotovoltaica, principalmente em localidades onde não há fornecimento de energia elétrica estável. A ideia é garantir que todos os equipamentos funcionem 24h por dia.
Em relação ao controle social da rede, a iniciativa busca promover o uso consciente da conexão com um aplicativo em que cada comunidade pode fazer a gestão de acordo com as regras acordadas coletivamente, como criação de cadastros, controle de acesso dos usuários, tempo e horário de uso e filtros para conteúdos indesejados.
“A chegada desse projeto nos ajudou muito. Pessoas já estão estudando online, o que antes não podiam pelo fato de não ter acesso à internet”, comemora Lucille Cardoso, moradora da comunidade Andurú, localizada na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns, no oeste paraense.
Cidadania da tecnologia
Além disso, programas em diferentes áreas do conhecimento exploram o potencial de promoção da cidadania da tecnologia. Alguns exemplos são o curso de sabedoria digital, voltado aos facilitadores de todas as comunidades, o programa de telemedicina e a formação de empreendedores comunitários.
“Esse projeto deve mudar muito a vida de muitas pessoas. Vai melhorar a vida dos estudantes e a vida de quem vai poder marcar daqui mesmo um exame lá na cidade, sem precisar enfrentar doze horas de viagem, por exemplo”, comenta Silvio Tavares de Souza, presidente da Associação-Mãe da Resex Terra-Grande Pracuúba, no município de Curralinho, que foi a milésima beneficiada pelo projeto.
A meta do Conexão Povos da Floresta é chegar a 5 mil comunidades até o final de 2025, alcançando assim 1 milhão de pessoas moradoras de áreas protegidas da Amazônia Legal. Atualmente, já são 27 mil usuários cadastrados e uma população diretamente beneficiada de cerca de 81 mil pessoas.