A agricultura familiar sempre deu exemplos de bons tratos com a terra de forma econômica. Agora, enquanto grandes produtores rurais enfrentam a ameaça da falta de fertilizantes vindos de um país em guerra, Rússia, os agricultores familiares exibem com orgulho sua forma de fertilizar a terra sem uso dos químicos.
É o que conta o agrônomo da Emater em Altamira, George Antônio da Silva Nascimento, ao Pará Terra Boa nesta segunda-feira, 28/03. Um bom exemplo vem da propriedade do senhor Milton Raimundo de Lima, no município. Lá, o produtor usa cama de frango, esterco de carneiro e casca de cacau triturada. Além do uso em sua propriedade, ainda sobra compostagem para comercializar entre os vizinhos.
“Ele fez uma composteira muito bem feita. O pessoal do hortifruti e quem trabalha com flores compra dele o composto. Ele não perde nada do que produz. É um dinheirinho a mais que entra”, conta George sobre o trabalho do senhor Milton, que cria galinha poedeira, ovinos e produz cacau.
Os resultados são positivos: a terra fica mais nutrida e a produção de frutos aumenta. Para a compostagem ficar no ponto de ir ao solo, são necessários 120 dias. O seu Milton trabalha de forma escalonada para que não falte o adubo durante o ano. A compostagem nunca falta porque o produtor rural tem sempre uma quantidade em processo de decomposição. George conta que o agricultor faz uma média de 4 a 5 adubações em sua lavoura de cacau.
Outro adubo que enriquece a compostagem são as folhas das árvores. “Aumenta ainda mais a produtividade”, ressalta o agrônomo. Ele acrescenta que há produtores que inovam mais com uso de caroço de açaí triturado, além da casca do fruto.
Há também produtores que usam o esterco bovino bem curtido, porém, um detalhe importante é levado em conta: a pastagem não deve fazer uso de herbicidas.
Quando o produtor trabalha com pecuária de leite, para produção de queijo, entra um fator ambiental essencial, além do uso de calcário no solo: a plantação de árvores para que o gado tenha mais conforto térmico.
“Quando ele começa a ver o assoreamento e desertificação do pasto, ele começa a entender o problema. A gente bate muito na tecla das áreas de proteção permanente, que são as encostas e margens de igarapés e nascentes. Na maioria das vezes, sem medo de errar, eles seguem direitinho a nossa orientação”, afirma o agrônomo.
Com relação à distribuição do composto orgânico no solo, George explica que é preciso fazer uma análise prévia para identificar as áreas que mais necessitam do adubo. “Depende da análise de deficiência que aquele solo precisa. Dá para colocar 5kg por planta daquela matéria que ele preparou”, diz.
Essa parceria da Emater com os agricultores familiares de Altamira é fundamental para o desenvolvimento das pequenas lavouras da região.
“Geralmente, quando o produtor nos procura ou quando acessamos a propriedade, ele já sabe o que quer. A gente orienta. Seu Milton, que é um produtor bem dinâmico e astuto, nós o orientamos e ele segue. Porém, ele vai fazendo as testagens dele. Ele compara os resultados. Se o resultado da nossa orientação for melhor que o dele, ele passa a seguir o que sugerimos. Se o resultado dele foi melhor que o nosso, ele nos chama e conversa. É uma via de mão dupla”, diz George.
E sempre e quando a experiência é exitosa, o produtor rural faz questão de passar para a vizinhança.
“Nós sabemos dessa guerra na Ucrânia, porém a agricultura familiar não depende totalmente do químico. Então, ela vai conseguir sobreviver”, avalia o agrônomo.
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