A Amazônia Legal pode chegar em 2050 com um crescimento econômico maior, mais qualificado e mais inclusivo. A economia da região alcançaria 312 mil empregos a mais, PIB de R$ 40 bilhões superior, 81 milhões de hectares em florestas adicionais e estoque de carbono 19% maior em comparação ao modelo atual de desenvolvimento baseado em atividades intensivas em desmatamento e emissões.
Para que isso aconteça, é preciso uma mudança no rumo da sua economia. Promover o crescimento da região de forma sustentável, a partir de uma agropecuária de baixo carbono de matriz energética solar, que gere oportunidades de empregos e, principalmente, elimine o desmatamento é um desafio que não apenas pode ser superado, mas é lucrativo.
É o que mostra um estudo realizado pela WRI Brasil e pela The New Climate Economy, em parceria com mais de 75 pesquisadores e organizações de diversas regiões do País. O relatório intitulado Nova Economia da Amazônia foi apresentado na terça-feira, 20, em uma conferência internacional sediada em Belém (PA), com a presença de pesquisadores, economistas, jornalistas e representantes do poder público.
A urgência em encontrar soluções para o desmatamento da Amazônia se dá, principalmente, em função de um dado desolador do relatório: Mais de 83% do desmatamento da região tem origem em demandas do resto do Brasil e do exterior.
De acordo com o estudo, na pecuária, 85% da área desmatada na região serve para atender o consumo doméstico; mais de 70% da floresta é derrubada para atender exportações de algodão e minérios, percentual que chega a 86% na soja. Já a demanda local responde por apenas 12% da devastação.
Rafael Feltran-Barbieri, economista sênior do WRI Brasil e um dos autores do estudo, afirmou que “a grande mensagem é que a Amazônia é quem menos desmata ela própria.”
O economista destacou as melhorias que o novo modelo econômico para a Amazônia Legal traria para as áreas social, econômica e ambiental.
“Um novo modelo econômico na Amazônia, pautado pela valorização dos atributos naturais e sociais da região, pode gerar inúmeras oportunidades e empregos inclusivos. Esse formato, que tornará a Amazônia a grande catalisadora da descarbonização de toda a economia brasileira, é, sem dúvida, a maior oportunidade de desenvolvimento econômico e social da história contemporânea do país”, afirmou.
A pesquisa demonstra que manter a floresta em pé e descarbonizar a economia é uma grande oportunidade – e não um impeditivo – para o desenvolvimento econômico e social da região e do Brasil. Ao final de 2050 o PIB da Amazônia Legal seria de R$ 1,34 trilhão, com 23,2 milhões de empregos, segundo o relatório
De acordo com Fernanda Boscaini, diretora executiva do WRI Brasil, essa transição vai exigir transformações em setores muito importantes, como agricultura, bioeconomia, restauração, matriz energética e infraestrutura.
“Assim como a gente trabalhou para gerar essa convergência de escolas, de pensamentos e métodos para realizar esse estudo, a gente sabe que a coordenação de forças de atores vai ser fundamental pra realizarmos essa transição. É por isso que a gente se alegra tanto em ver pessoas, parceiros, instituições tão importantes nesse processo, presentes e engajadas nesse debate aqui de hoje”.
Outra autora do relatório, a pesquisadora indígena, Braulina Baniwa, defendeu a importância da inclusão do conhecimento dos povos originários na construção de um novo modelo de desenvolvimento. Para ela, não se pode pensar em bioeconomia sem levar em consideração as pessoas que moram no território e que são detentores desse conhecimento.
“São saberes que precisam desse olhar para além da ciência, da academia, e que também podem contribuir nessa ciência que está dentro da universidade”, disse.
Autoridades
Durante o debate, o Assessor Especial do Ministro da Fazenda, João Paulo de Resende, destacou os estímulos econômicos do governo federal na implementação de políticas de combate ao desmatamento e redução de emissão de carbono que inclui desde estímulos fiscais, financiamentos, à mecanismos de controle e socialização de riscos. Até o final de junho, novo pacote de medidas será lançado e já contempla algumas ações do governo.
“É muito útil pra nós esse tipo de trabalho que foi feito. Vai subsidiar as decisões que estão sendo tomadas na formulação desse plano para todo o Brasil”, disse João Paulo sobre o relatório.
A programação encerrou com a participação do governador do Pará e presidente do Consórcio Amazônia Legal, Helder Barbalho; do Secretário de Estado na Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará, Mauro O’ de Almeida; e do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues.
Helder falou das ações ambientais no âmbito do governo do Estado, as quais envolvem comando, controle e fiscalização que, aliadas às medidas de combate ao desmatamento do governo federal, já começam a apresentar resultados.
“Estamos fechando estes primeiros cinco meses e 18 dias de 2023 com redução de 49% de emissão de gases no Pará, comparado com o mesmo período do ano de 2022. E nós temos só nos primeiros 18 dias do mês de junho, uma redução de 69%, quando comparado com o mesmo período do ano passado”. O governador também ressaltou a relevância do trabalho dos pesquisadores, que se soma às ações conjuntas entre governo federal e estadual, para a busca de alternativas econômicas sustentáveis para a região.
O estudo foi realizado com apoio financeiro do Instituto Clima e Sociedade (iCS), Ministério das Relações Exteriores da Dinamarca, Ministério Federal do Meio Ambiente, Proteção da Natureza, Segurança Nuclear e Proteção do Consumidor da Alemanha (BMU), Instituto Arapyaú, Good Energies Foundation e Climate and Land Use Alliance (CLUA). Participaram pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), USP, UFRJ, UFMG, Ipam, Idesam, Uma Concertação pela Amazônia, Center for Climate Crime Analysis (CCCA) e Associação Contas Abertas.