Geralmente quando se fala dos efeitos das mudanças climáticas, as projeções abordam o futuro, porém pesquisas recentes mostram que os impactos já fazem parte do presente e são perceptíveis no cotidiano de regiões mais preservadas e de importância estratégica para o planeta, como é o caso da Amazônia.
Na semana em qeu se celebra o Dia da Amazônia, é triste constatar que a maior extensão da estação seca, a queda no volume de chuvas e o aumento das temperaturas são alguns dos indícios analisados por cientistas que notam o agravamento de uma situação crítica em relação à floresta.
Esse é o contexto por trás do chamado ponto de não retorno. O conceito trata de um momento em que a devastação seria tão grande que a floresta perderia sua capacidade de prestar seus serviços ecossistêmicos, como absorver o gás carbônico e gerar chuva.
“O sudeste da Amazônia, que pega a parte mais ao norte do estado do Mato Grosso e metade do estado do Pará, já tem um aumento de temperatura muito grande. Se pegarmos essa região nos últimos 20 anos, vemos um aumento de temperatura de até 50%. Isso implica em aumento da mortalidade das árvores e em piora de condições para o crescimento delas até mesmo nas regiões que ainda não estão desmatadas. Estamos nos aproximando de um ponto de não retorno nesse lado leste da Amazônia”, afirma Luciana Gatti,
Pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), ela acredita que o ponto de não retorno deve ser atingido em momentos distintos por cada porção da floresta.
“A estação seca é cada vez mais seca e mais longa. Em parte do nordeste da região, ela já dura cinco meses, ou seja, a maior floresta tropical úmida do mundo está perdendo sua capacidade de continuar existindo”, alerta.
Os estudos desenvolvidos por Luciana Gatti em parceria com outros cientistas mostram que há uma relação direta desses problemas com o desmatamento da região. Isso porque as árvores atuam na absorção e transformação da água do seu estado líquido para o gasoso, o que contribui para amenizar os efeitos do calor e também para a formação das chuvas.
Segundo a especialista, cerca de 50% das precipitações na Amazônia estariam ligadas a esse ciclo. Além disso, essa umidade gerada é transportada também para outras áreas em um processo popularmente conhecido como rios voadores.
Mas toda essa dinâmica ecossistêmica está ameaçada com o avanço do desmatamento, das queimadas e outras ações humanas sobre o meio ambiente.
“O que gente observa é que existe uma relação direta entre desmatamento e perda da condição climática da floresta. É uma agudização da estação seca. Quando se tem até 30% de desmatamento, a estação seca é a mais afetada e perde volume de chuvas. Só que temos regiões, como é o caso da Transamazônica, em que quase 40% já está desmatada. Nesse cenário, até a estação chuvosa tem perda de chuvas”, esclarece.
Por Fabrício Queiroz