Práticas da agricultura regenerativa em regiões impactadas pelo desmatamento estão trazendo ótimos resultados no Pará, É o caso do município de São Félix do Xingu, no sudeste paraense. Por lá, mais de 1 mil hectares passaram por restauração ecológica e cerca de 2 mil hectares de pastagens degradadas foram convertidos em sistemas agroflorestais (SAFs) utilizando uma espécie nativa da Amazônia: o cacau.
As ações envolvem, além so incentivo à implantação de SAFs com o projeto Cacau Floresta, mas também de sistemas de Integração Lavoura Pecuária e Florestas (ILPF).
Nas agroflorestas, há uma combinação entre a floresta e o cultivo de diversas espécies agrícolas de valor econômico, com colheitas realizadas em épocas diferentes. Já no ILPF, além dos elementos florestal e agrícola, também é incluída a criação de gado. Entre as vantagens desses sistemas estão o aumento da produção de alimentos sem a necessidade de expandir para áreas de floresta nativa, além de uma capacidade significativamente maior de sequestro de carbono quando comparada à pecuária extensiva, prática ainda muito comum na região.
De acordo com a Rodrigo Freire, líder de Áreas Privadas para a Amazônia da The Nature Conservancy (TNC) Brasil, é comum que pequenos produtores na Amazônia comprometam a saúde de suas terras investindo em um modelo de pecuária de baixa tecnologia, ou seja, na criação de gado sem cuidados de manejo que, com o tempo, acabam degradando suas terras e as deixando improdutivas.
“Sem o conhecimento adequado, as pastagens degradam o solo, demandam novas áreas de florestas e comprometem a produtividade e geração de renda dos agricultores. Esse cenário leva a um processo contínuo de desmatamento e de degradação.
Freire afirma que, há 10 anos na região, o projeto Cacau Floresta tem provado que o cultivo de cacau em sistemas agroflorestais é uma estratégia eficaz para recuperar essas áreas, gerar renda aos produtores rurais e, assim, combater o desmatamento ao romper com esse ciclo, Mas é importantíssimo o papel da assistência técnica e extensão rural (ATER), que atende tanto demandas individuais quanto coletivas.
Cacau Floresta
Desde que foi criado o projeto Cacau Floresta já atendeu 600 famílias de São Félix do Xingu, Tucumã, Altamira, Vitória do Xingu, Brasil Novo, Medicilândia, Anapu e Pacajá, que produziram mais de 2 toneladas de cacau. Com a instituição do PNCPD, a expectativa é que mais produtores rurais possam ser beneficiados, o que deve contribuir para diminuir o passivo ambiental na região. Segundo a organização, são 579.745 hectares de pastagens degradadas em 13.203 propriedades de São Félix do Xingu e municípios do entorno que estão aptas ao PNCPD.
Para que essas áreas possam ser restauradas, no entanto, é necessário o fortalecimento de programas de regularização ambiental e fundiária, além de assegurar crédito e outros mecanismos financeiros. A injeção de recursos é apontada como essencial já que ajudaria a diminuir os custos com a regeneração, que atualmente gira em torno de R$ 5 mil por hectare em áreas de baixa aptidão produtiva e R$ 2.5 mil onde a degradação está em nível moderado.
“O PNCDP, se implementado no estado do Pará, associado a iniciativas estaduais, como o Programa de Regularização Ambiental (PRA); Paisagens Sustentáveis; Plano Amazônia Agora; Política Estadual de Mudanças Climáticas com ênfase no Programa Estadual de Boas Práticas Produtivas e Programa Estadual de Recuperação da Vegetação Nativa, ganhará muita velocidade em um ambiente de programa integrados e contribuirá fortemente com as metas de todos estes programas”, analisa Francisco Fonseca, especialista em governança público-privada na pecuária amazônica da TNC.