Com a diminuição das chuvas e o aumento da temperatura, há expectativa de que o nível dos rios da Amazônia superem a marca do ano passado e causem uma nova seca histórica na região até outubro. No final de maio, a Defesa Civil de Santarém, no oeste do Pará, emitiu um alerta para o baixo volume do Rio Tapajós, que estava 90 centímetros abaixo do nível registrado no mesmo período do ano passado, com 6,26 metros.
De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em maio 5 municípios no Pará registravam seca severa, assim como a sub-bacia afluentedo rio Xingú. Já a bacia afluente do rio Tocantins estava classificada em seca extrema.
Essa recorrência de fortes secas na Amazônia é mais um indício dos efeitos das mudanças climáticas na maior floresta tropical do planeta. Além de intensificar fenômenos climáticos naturais, como o El Niño, o aumento da temperatura média da Terra também está causando um aquecimento generalizado dos oceanos, o que pode ter um papel na intensificação das secas na região amazônica.
“A seca dos últimos anos] é uma amostra” do que está por vir, pontuou José Marengo, cientista do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN), ao InfoAmazonia. “Parece que agora estamos olhando para algumas dessas coisas que poderiam acontecer nas próximas décadas”.
Sobre secas amazônicas, a revista Nature publicou nesta semana um novo estudo que mapeou os efeitos da seca nas diferentes áreas da Amazônia. Segundo a análise, além do clima em si, o impacto da seca depende também de características da própria área, como a profundidade dos lençóis freáticos e o tamanho das raízes.
O estudo analisou dados de satélite que cobrem três períodos de seca na Amazônia – 2005, 2010 e 2015-2016. De acordo com os pesquisadores, a análise mostrou que algumas regiões aumentaram em áreas verdes durante a seca porque a água subterrânea era mais próxima à superfície.
Esse resultado foi mais observado na região sul da Amazônia, em uma bacia sedimentar conhecida como Escudos Brasileiros. Ao mesmo tempo, as porções da floresta amazônica ao norte, concentradas no Escudo da Guiana, onde o solo é menos fértil e as águas mais profundas, também apresentaram resiliência, ainda que menor, por conta das raízes profundas das árvores.
“Quando falamos sobre a Amazônia estar em risco, pensamos como se fosse uma única coisa. Esta pesquisa mostra que a Amazônia é um mosaico rico em que algumas partes são mais vulneráveis. Essa é a chave para compreender o sistema e, em última análise, protegê-lo”, afirmou Shuli Chen, cientista da Universidade do Arizona (EUA) e autora principal do estudo, à VEJA.
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