A destruição causada pelo fogo na Amazônia continua batendo recordes. O monitoramento feito pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mostra que a área queimada no bioma neste ano chega a 12.044.075 hectares, que corresponde a 2,8% do total de sua extensão e superior à dimensão de países como Cuba e Guatemala. Esse é o maior valor da série histórica acompanhada desde o ano de 2012.
Os dados refletem a escalada dos incêndios florestais na região desde o início de agosto, coincidindo com a estação seca. Apesar do aumento das ações de combate às chamas por parte dos governos estaduais e federal e do aumento do número de brigadistas, somente na semana de 16 a 22 de setembro houve um incremento de 1.032.050 de hectares em área queimada na Amazônia.
O Pará é um dos estados com a situação mais crítica. Segundo o Lasa, o fogo já consumiu uma área de 5.069.200 no estado de 1º de janeiro até 26 de setembro. O cenário só é pior no Mato Grosso, onde a degradação dos biomas Amazônia e Cerrado ultrapassa 6.7 milhões de hectares.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), há 1.608 agentes do Governo Federal atuando na região, entre profissionais do Ibama, ICMBio, Força Nacional e Forças Armadas, além de 10 aviões e helicópteros destacados para as operações.
Em entrevista à Rádio Nacional, o secretário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial do MMA disse que as queimadas na região foram agravadas por fenômenos climáticos atípicos e pela ação criminosa de pessoas que estariam reagindo à queda do desmatamento ilegal que, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) recuou 42% no período de agosto de 2023 a julho de 2024.
“Tem, inclusive, incêndio que a gente imagina que possa ter conotação política. É uma reação de parte da sociedade que não se conforma, que não se enxergou dentro da sustentabilidade”, afirmou.
Rio Tapajós
Aliado a isso, diversas comunidades convivem com dificuldades a mais por conta da seca severa. Na área banhada pelo Rio Tapajós, onde a Agência Nacional de Águas (ANA) já declarou situação de escassez hídrica, o transporte e o turismo já são afetados. Os catraieiros que fazem a travessia dos visitantes da orla até a Praia do Amor, no distrito de Alter do Chão, estão há duas semanas com as canoas estacionadas, informa o G1 Santarém.
Na região sudeste, o município de São Félix do Xingu vive dias críticos com a falta de chuvas há mais de 30 dias, redução do nível do Rio Xingu em cerca de 2 metros, além do maior índice de queimadas em todo o país. Em 2024, a cidade já registrou 7.020 focos de incêndios e ocupa a liderança do ranking do fogo.
“São 30 anos de experiência navegando no Rio Xingu e nunca tinha visto uma seca como essa no nosso rio. É muita pedra, muita dificuldade para navegar e fica difícil para trabalhar”, relatou à TV Liberal o barqueiro João Inácio.