A Amazônia está perdendo umidade e ficando mais suscetível a incêndios naturais. Essa é uma das razões para a escalada do número de queimadas na região em 2024, segundo explicou a ministra do do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Marina Silva, em audiência realizada nesta quarta-feira, 4, no Senado Federal. Caso a crise climática persista, a previsão é que o bioma se torne ainda mais inflamável no futuro.
“Estamos num processo severo de mudança do clima, a floresta entrando num processo de perda de umidade e se tornando vulnerável a incêndio. Seja por ignição humana ou até no futuro, se isso permanecer, por fenômenos naturais, em função da incidência de raios. É uma química altamente deletéria, inimaginável”, alertou a ministra.
O cenário descrito representaria uma alteração profunda no perfil da floresta, que tem uma característica tropical úmida. As ocorrências de incêndios naturais são mais comuns em matas secas, como o Cerrado, onde a vegetação típica de savana queima com mais facilidade depois da queda de raios, por exemplo.
Em um ambiente menos úmido, a quantidade de queimadas deve ser ainda maior do que as registradas até agora. De acordo com o MMA, 27% das áreas atingidas (cerca de 900 mil hectares) estão ligadas à atividade agropecuária; 41% (1,4 milhão de hectares) estão em áreas de vegetação não florestal, como pastagens e capoeiras; e 32% (1 milhão de hectares) em áreas de vegetação florestal. Historicamente, as florestas afetadas representavam, em média, de 15% a 18% do total de incêndios.
“Eu diria que o esforço que está sendo feito nesse momento é de tentar ‘empatar o jogo’, com essas condições totalmente desfavoráveis”, afirmou Marina Silva, citando as medidas tomadas pelo Governo Federal, que está atuando na região com 1.468 brigadistas.
Pará tem maior número de queimadas no País
Apesar disso, o fogo não dá trégua. Nas primeiras 48 horas de setembro de 2024, o Pará foi o estado que apresentou o maior número de queimadas no Brasil, tendo registrado 2800 focos ativos, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Este índice é quase seis vezes maior que o listado nos dias 1 e 2 de setembro do ano passado, quando 479 focos foram detectados.
Somado a isso, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) acompanha as condições críticas da seca, que já é considerada a pior enfrentada pela região nos últimos 45 anos.
Durante a sessão, Marina Silva fez um apelo para que os parlamentares direcionem recursos para a pasta e para que o Congresso Nacional crie um marco regulatório de emergência climática, que permitiria que os gastos nessas situações fossem excluídos da meta fiscal do governo.
“Nós estamos vivendo sob um novo normal que vai exigir do poder público capacidade de dar resposta que nem sabemos como vão se desdobrar daqui para a frente”, destacou.