A Amazônia vive um período crítico que potencializa as queimadas. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que o número de focos de calor na região chegou a 23.114, contando de 1º de janeiro até esta terça-feira, 30 de julho, uma alta de 71%, comparado com o mesmo período de 2023, quando foram registrados 13.458 focos. No Pará, o problema preocupa também, já que acumula 4.639 queimadas nos últimos sete meses, cerca de 32% a mais do que no mesmo intervalo do ano anterior.
No ranking dos estados, o Pará aparece em quarto lugar, tendo à frente o Mato Grosso do Sul em terceiro com 5.234 focos de calor; o Tocantins com 5.467 em segundo,; e o Mato Grosso, que também tem áreas do bioma amazônico em seu território. No estado vizinho, o número de queimadas é mais que o dobro dos demais, com 11.109 focos registrados.
O nível de atenção aumenta visto que a Amazônia passa pelo período de verão, que deve se prolongar até o final de outubro. As altas temperaturas e a baixa umidade relativa do ar da estação são combustíveis a mais que podem facilitar a propagação do fogo no bioma, assim como já se nota no Cerrado e no Pantanal. Um exemplo disso é que, na transição da estação chuvosa para a seca, o Pará viu a quantidade de focos de calor saltar de 635 em junho para 2.735 neste mês.
Pela plataforma do INPE, é possível acompanhar o histórico do fogo na região. Os dados revelam que os meses de agosto, setembro e outubro tendem a ser mais quentes e com maior número de ocorrências de focos de calor. No ano passado, por exemplo, o maior número de queimadas do Pará foi em setembro, quando ocorreram 26.452. Já no mesmo mês de 2022, a situação foi ainda mais grave, com registro de 41.202 focos.
À Folha de São Paulo, a diretora de ciência do Ipam e coordenadora do MapBiomas Fogo, Ane Alencar, disse que a ação prioritária do governo nos 71 municípios com maiores índices de desmatamento fez reduzir o número de ocorrências em áreas de pastagem e de agricultura. Atualmente, o agravante é que a área queimada cresceu em terras indígenas, unidades de conservação, projetos de assentamento, quilombos, florestas públicas não destinadas e outros tipos de terras públicas, onde há mais vegetação nativa.
“Setembro, normalmente, é o pico de área queimada na amazônia. No ano passado, teve um pico em abril e depois foi reduzindo, mas observamos uma anomalia em outubro, novembro e dezembro. É como se o período de queimada tivesse se deslocado para o final do ano”, avalia a pesquisadora alertando para os riscos nos próximos meses.
Em nota, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) informou que os incêndios florestais na região estão sendo intensificados pelos efeitos das alterações climáticas e do El Niño. Segundo a pasta, a questão é acompanhada por sala de situação responsável por coordenar a resposta federal aos incêndios e à estiagem no país.
Além disso, o Ministério destaca que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) terão mais de 3 mil brigadistas para enfrentar a temporada de fogo em 2024 e que R$ 405 milhões já foram destinados para apoiar os Corpos de Bombeiros da Amazônia Legal no combate às queimadas.