Muito tem se falado sobre os desafios de se realizar a COP em Belém, em 2025, sob o ponto de vista logísitco: se haverá acomodações, tranporte e infra-estrutura para receber um evento que reune cerca de 70 mil pessoas do mundo todo. O mais recente relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) lança luz, porém, sobre um desafio muito mais sério: controlar o aquecimento do planeta.
Segundo a organizaçao, além de ter sido o ano mais quente já registrado, 2023 foi marcado por consecutivas quebras de recordes climáticos, desencadeando ondas de calor, enchentes, secas, incêndios florestais e ciclones tropicais. O resultado é o aumento da miséria da população mais vulnerável e perdas econômicas de muitos bilhões de dólares.
De acordo com o relatório da OMM, 2023 registrou temperatura média global perto da superfície atingindo 1,45″ C (com uma margem de incerteza de ± 0,12 °C) acima da linha de base pré-industrial. Também foi a década mais quente já documentada.
Para o o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, “as sirenes estão tocando em todos os principais indicadores e o ritmo das mudanças está acelerando”.
“Nunca estivemos tão perto – embora temporariamente no momento – do limite inferior de 1,5°C do Acordo de Paris sobre mudança climática”, disse a Secretária-Geral da OMM, Celeste Saulo. “A comunidade da OMM está soando o Alerta Vermelho para o mundo.”
De acordo com Celeste, a mudança climática é muito mais do que temperatura. O que o mundo testemunou em 2023, especialmente com o calor oceânico sem precedentes, recuo das geleiras e perda de gelo marinho na Antártica, é motivo de particular preocupação.
Em um dia normal de 2023, quase um terço do oceano global foi atingido por uma onda de calor marinha, prejudicando ecossistemas e sistemas alimentares vitais. No final de 2023, mais de 90% do oceano havia experimentado condições de onda de calor em algum ponto do ano.
Gases de efeito estufa
As concentrações observadas dos três principais gases de efeito estufa – dióxido de carbono, metano e óxido nitroso – atingiram níveis recordes em 2022. Dados em tempo real de locais específicos mostram um aumento contínuo em 2023.
Os níveis de CO2 estão 50% mais altos do que na era pré-industrial, prendendo calor na atmosfera. A longa vida útil do CO2 significa que as temperaturas continuarão a subir por muitos anos.
Temperatura
A temperatura média global perto da superfície em 2023 foi de 1,45 ± 0,12 °C acima da média pré-industrial de 1850-1900. 2023 foi o ano mais quente no registro observacional de 174 anos. Isso quebrou o recorde dos anos anteriores mais quentes, 2016 em 1,29 ± 0,12 °C acima da média de 1850-1900 e 2020 em 1,27 ± 0,13 °C.
A média de dez anos da temperatura global de 2014-2023 é de 1,20 ± 0,12 °C acima da média de 1850-1900.
Globalmente, todos os meses de junho a dezembro foram recordes de calor para o respectivo mês. Setembro de 2023 foi particularmente notável, superando o recorde global anterior para setembro por uma ampla margem.
Temperatura do oceano
O calor do oceano atingiu seu nível mais alto em 2023, de acordo com o relatório. As taxas de aquecimento mostram um aumento particularmente forte nas últimas duas décadas.
É esperado que o aquecimento continue – uma mudança irreversível em escalas de centenas a milhares de anos. Ondas de calor marinhas mais frequentes e intensas têm profundas repercussões negativas para os ecossistemas marinhos e recifes de coral.
O oceano global experimentou uma cobertura média diária de ondas de calor marinhas de 32%, bem acima do recorde anterior de 23% em 2016. No final de 2023, a maior parte do oceano global entre 20° S e 20° N estava em condições de onda de calor desde o início de novembro.
A acidificação do oceano aumentou como resultado da absorção de dióxido de carbono.
Aumento do Nível do Mar
Em 2023, o nível médio global do mar atingiu um recorde na série de satélites (desde 1993), refletindo o contínuo aquecimento do oceano (expansão térmica) e o derretimento de geleiras e camadas de gelo.
A taxa de aumento do nível médio global do mar nos últimos dez anos (2014-2023) é mais do que o dobro da taxa de aumento do nível do mar na primeira década do registro do satélite (1993-2002).