As florestas tropicais de todo o mundo estão ameaçadas pelo avanço da devastação. A boa notícia é que uma área de 215 milhões de hectares – equivalente ao tamanho do México – tem potencial para ser recuperada em processos de regeneração natural. Em pesquisa publicada na revista Nature, o Brasil aparece em destaque nesse segmento, com uma área de 55,12 milhões de hectares, comparável ao território de todo o estado da Bahia, capaz de ser beneficiada pela restauração florestal.
A regeneração natural é um processo de restauração que ocorre com pouca ou nenhuma intervenção humana, por isso são práticas mais baratas. De acordo com o estudo, o investimento necessário em florestas que crescem sozinhas varia de US$ 12 a US$ 3.880 por hectare, enquanto que os projetos tradicionais de restauração com plantios precisam de US$ 105 a US$ 25.830 por hectare.
Além disso, as áreas regeneradas naturalmente têm um melhor resultado no quesito sequestro de carbono. A pesquisa estima que se todas áreas indicadas forem restauradas, 23 gigatoneladas de carbono seriam retidas na biomassa acima do solo ao longo de 30 anos. Isso equivale a quase metade das emissões anuais de gases de efeito estufa do mundo. Se for considerada a biomassa abaixo do solo, a projeção é que o sequestro total de carbono chegaria a cerca de 30 gigatoneladas por ano.
“A regeneração natural das florestas é um dos caminhos mais promissores para dar a escala necessária à restauração florestal para gerar os benefícios desejados de mitigação climática por meio da captura de carbono, contribuindo para as metas de emissão líquida zero até meados do século”, afirma Ludmila Pugliese, gerente de Restauração da Conservação Internacional (CI-Brasil), que tem pesquisadores envolvidos no estudo.
No momento em que mais de 190 nações se voltam para a discussão de propostas para a proteção dos diversos biomas durante a COP16, a pesquisa ressalta ainda outras vantagens que a regeneração natural oferece, como a conservação da biodiversidade, a regulação dos recursos hídricos, a redução dos riscos de erosão e o aumento da resiliência ecológica geral.
Além do Brasil, Indonésia, China, México e Colômbia têm grandes potenciais para a regeneração e, juntos, representam 52% de todas as florestas passíveis de restauração no planeta. Ainda assim, essa é uma estratégia subutilizada e que precisa ser incentivada.
Para os pesquisadores, é necessário apostar em mecanismos que envolvam a participação das comunidades nesse processo. Um dos caminhos é criar formas de compensação de agricultores e comunidades pelo engajamento na regeneração natural através de pagamentos por serviços ecossistêmicos ou mercados de compensação. Combinadas com benefícios de longo prazo, a expectativa é que haveria uma continuidade da conservação nas florestas atendidas.