As queimadas causaram a degradação de mais de 30,8 milhões de hectares no País em todo o ano passado, o maior índice desde 2019 e um aumento de 79% em relação a 2023. Os dados divulgados nesta quarta-feira, 22, fazem parte do balanço realizado pela plataforma Monitor do Fogo, do MapBiomas, que ainda aponta o Pará como o principal alvo das queimadas. No total, 7,3 milhões de hectares foram destruídos pelo fogo no estado, o que corresponde a 24% do total nacional. Mato Grosso e Tocantins ocuparam, respectivamente, a segunda e a terceira posição.
É no Pará que também fica o município com as maiores taxas de queimadas no Brasil. O estudo revela que São Felix do Xingu, no sudeste paraense, acumulou mais de 1,47 milhão de hectares em 2024, um aumento de 381% em relação à média do ano anterior. Em seguida aparece Corumbá (MS), com 841 mil hectares queimados. Juntos, os dois municípios respondem por mais da metade (55%) da área queimada no Brasil no ano passado.
A situação é ainda mais crítica porque São Félix do Xingu não é um caso isolado, já que o bioma amazônico foi o mais atingido pelo fogo. Segundo a pesquisa, foram 17,9 milhões de hectares destruídos na região ao longo de 2024. Para se ter noção da gravidade, essa extensão é maior do que toda a área queimada no País em 2023 e corresponde a mais da metade (58%) de todas as queimadas no ano passado.
“O ano de 2024 destacou-se como um período atípico e alarmante do fogo no Brasil, com um aumento expressivo na área queimada em quase todos os biomas, afetando especialmente as áreas florestais, que normalmente não são tão atingidas. Os impactos dessa devastação expõem a urgência de ações coordenadas e engajamento em todos os níveis para conter uma crise ambiental exacerbada por condições climáticas extremas, mas desencadeada pela ação humana como foi a do ano passado”, recomenda Ane Alencar, diretora de Ciências do IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo.
Relação direta com a seca
O avanço do fogo tem relação direta com os efeitos das secas recentes aliadas ao fenômeno El Niño, que entre 2023 e 2024 provocou uma queda no volume de chuvas na região. Mas além disso, os especialistas destacam que há outros fatores acelerando esse processo e agravando a crise, aumentando o risco em áreas florestais, por exemplo, que historicamente tiveram menos índices de queimadas em comparação às pastagens.
“Esse recorde na Amazônia foi impulsionado por um regime de chuvas abaixo da média histórica, agravando as condições ambientais. Um dado preocupante é que a classe de formação florestal foi a mais atingida, superando pela primeira vez as áreas de pastagens, que tradicionalmente eram as mais afetadas. Essa mudança no padrão de queimadas é alarmante, pois as áreas de floresta atingidas pelo fogo tornam-se mais suscetíveis a novos incêndios. Vale destacar que o fogo na Amazônia não é um fenômeno natural e não faz parte de sua dinâmica ecológica, sendo um elemento introduzido por ações humanas”, alerta Felipe Martenexen, da equipe do MapBiomas Fogo.