Por Fabrício Queiroz
O avanço da crise climática vem provocando alterações nos ecossistemas e nos modos de vida das diversas sociedades no planeta. Nesse contexto, a busca por estratégias de prevenção e mitigação de danos ganham cada vez mais a atenção e destacam o papel que a Amazônia tem para evitar o colapso global. Esses foram os pontos principais das discussões apresentadas na mesa “A Amazônia e as mudanças climáticas”, promovida na conferência preparatória para a COP30, realizada na sexta-feira, 15, em Belém.
Participaram do debate Marina Gadelha, presidente da Comissão de Mudanças Climáticas da OAB; Luiz Davidovich, ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC); Ricardo Galvão, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); e Vanessa Grazziotin, diretora executiva da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).
Luiz Davidovich ressaltou dados que projetam que o aumento da temperatura do planeta pode ser de 4º a 5º C até 2050, caso as políticas atuais de emissão de gases continuem em prática. O pesquisador alertou ainda que medições do Serviço Meteorológico do Reino Unido mostram que as temperaturas médias já subiram 1,2º C desde o início da era industrial até o ano de 2022, o que impõe um desafio para o alcance de meta de contenção do aquecimento em 1,5º até 2030, conforme prevê o Acordo de Paris.
Para ele, a estratégia de enfrentamento à emergência climática deve priorizar a redução das emissões de carbono, que, no caso do Brasil, são oriundas principalmente do desmatamento. Quando se observa o contexto da Amazônia, nota-se ainda o impacto das mudanças no uso da terra, com a transformação das paisagens naturais em pastos para a pecuária extensiva ou em garimpos, por exemplo.
Davidovich avalia que as atividades econômicas baseadas nesse modelo não trazem o retorno esperado e ainda impedem o desenvolvimento de projetos para exploração sustentável dos recursos presentes na floresta, a exemplo da bergenina, sintetizada a partir do uxi-amarelo e cujo valor por miligrama no mercado chega a ser cinco vezes maior do que o ouro.
“Essa é a nossa riqueza. Ironicamente, essa riqueza da biodiversidade está sendo prejudicada pelo ouro físico que é explorado ilegalmente na Amazônia e que polui os rios com mercúrio, que mata indígenas, que não favorece as populações ribeirinhas e que tem, portanto, efeitos dramáticos, sejam eles sociais, econômicos e físicos na natureza”, afirmou Luiz Davidovich.
Desenvolvimento científico e tecnológico
Por sua vez, Ricardo Galvão chamou atenção para a importância do desenvolvimento científico e tecnológico na região, elencando as propostas dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) e as ações de fomento que fortalecem a produção de conhecimento a partir da Amazônia.
O presidente do CNPq lembrou que foram estudos realizados pelas instituições amazônidas que revelaram que a degradação florestal tem um papel tão importante quanto o desmatamento no volume das emissões de gases do efeito estufa, assim como foram pesquisas locais que identificaram que o chamado arco do desmatamento já enfrenta períodos de seca mais longos e com redução de 20% na umidade do solo.
“Tem que ter muito investimento, principalmente para saber caracterizar toda a biodiversidade da Amazônia e como usar isso. Nós temos que não só melhorar o conhecimento da Amazônia, mas também saber como transferir esse conhecimento para a produtividade na sociedade amazônica. Isso tudo depende de muito investimento em ciência e tecnologia”, frisou o pesquisador.
Já Vanessa Grazziotin detalhou a atuação da OTCA e como a instituição tem contribuído para a cooperação regional entre os países do bioma amazônico. Para ela, essa estrutura supranacional possibilita a melhor compreensão das peculiaridades da região e suas contribuições para a agenda climática global.
Na visão de Vanessa Grazziotin, um exemplo dessas contribuições está materializado na Declaração de Belém, elaborada durante a Cúpula da Amazônia e que deve subsidiar os debates da COP30. A expectativa da diretora executiva da OTCA é que a realização da Conferência do Clima ponha a região em maior evidência e resulte em novos compromissos com o combate às mudanças do clima.
“Belém sente isso e vai continuar sentindo porque nós vamos ter um grande processo de mobilização para que a gente coloque a Amazônia no lugar que ela tem ser posta: ser prioridade pro Brasil e para o mundo”, ressaltou.