Você já ouviu falar que, sem a exploração da Foz do Amazonas, as reservas de petróleo do Brasil acabarão em 10 anos? Pois saiba que uma análise de dados realizada pelo InfoAmazônia mostra que isso não é verdade.
Com base nos relatórios de produção da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e nas projeções de consumo no Brasil feitas pela Agência Internacional de Energia (IEA), os dados revelam que se o Brasil cumprir suas metas climáticas, ou seja, neutralizar suas emissões de gases de efeito estufa. as reservas do País devem durar até pelo menos 2039,
A conclussão é uma resposta à alegação da Petrobras sobre a importância de explorar novas reservas na Foz do Amazonas para financiar a transição energética e evitar o risco de importar petróleo dentro de 10 anos.
Para entender como isso se dá, é preciso saber que as reservas são a estimativa da quantidade de petróleo que pode ser extraída em um campo de produção. Elas são divididas em três categorias: reservas provadas (1P), com 90% de chance de extração; reservas prováveis (2P), com 50% de chance; e reservas possíveis (3P), com apenas 10% de chance de que o petróleo seja extraído comercialmente. Uma mesma área pode conter simultaneamente reservas provadas — com maior chance de serem extraídas — além de prováveis e possíveis.
O levantamento leva em conta que, em 2023, o Brasil tinha um total de 15,9 bilhões de barris de óleo (boe) em reservas provadas. Se considerar as reservas prováveis e possíveis, o número chega a 18 bilhões de barris.
Com base nisso, foram projetados cinco cenários:
- Cenário conservador: Considera que o consumo e exportação de petróleo permanecerão nos níveis máximos dos últimos cinco anos. Nesse caso, as reservas provadas se esgotariam entre 2035 e 2036, e as reservas totais entre 2036 e 2037.
- Aumento do consumo e exportação: As projeções da IEA indicam um crescimento contínuo do consumo e exportação. Nesse ritmo, as reservas provadas acabariam em 2032 e as reservas totais em 2033.
- Cenário Net Zero: Trabalha com a meta do Net Zero, isto é, o cumprimento do Acordo de Paris, em que o Brasil decidiu contribuir com a redução de 75% das emissões do planeta até 2050. Nesse caso, as reservas provadas durariam entre 2038 e 2039 e as totais entre 2041 e 2042.
- Sem exportação: O Brasil acabaria com as exportações e manteria um consumo interno crescente, o que faria com que as reservas provadas se esgotassem em 2036 e as totais em 2038. Se o consumo fosse constante, os estoques durariam até 2045 (provados) e 2048 (total).
- Exportação constante e redução de consumo: Com as exportações mantidas e o consumo reduzido em 75% até 2050, as reservas provadas se esgotariam em 2037 e as reservas totais em 2039.
Na contramão dos compromissos
A pressão para obter o licenciamento para exploração da Foz do Amazonas vai na contramão do que a Petrobrás e o governo brasileiro assumem como compromisso com a transição energética. Segundo a estatal, até 2028 devem ser investidos US$ 11,5 bilhões em energias renováveis (eólica e solar), captura e armazenamento de carbono e biocombustíveis, como bioquerosene de aviação e diesel renovável, soluções de baixo carbono.
Em resposta à reportagem, a Petrobras encaminhou uma entrevista da presidente da empresa, Magda Chambriard, que reforça que a companhia busca alcançar a neutralidade de emissões (Net Zero) até 2050. No entanto, quando questionada sobre a suposta necessidade de importação de petróleo em 10 anos, a empresa não respondeu.
Em relatório, a IEA indica que “não serão necessários novos campos de petróleo e gás natural além dos já aprovados” para que os países cumpram as metas do Acordo de Paris. Porém, a organização reforça que é preciso que diminua o consumo global, passando dos atuais 90 milhões de barris por dia para 24 milhões em 2050, uma redução de 75%.
A bacia da Foz do Amazonas tem cerca 350 mil km² entre o Pará e o Amapá e setores do governo especulam que a região poderia produzir em torno de 10 bilhões de barris. A Petrobrás tenta licenciamento para o empreendimento, mas o projeto já recebeu três negativas da área técnica do Ibama. Não há, portanto, nenhum licenciamento nem reservas provadas na área.