O mateiro paraense conta agora com uma ferramenta importante na identificação das árvores da nossa floresta. Trata-se de um catálogo inédito com 56 espécies nativas arbóreas comerciais lançado nesta terça-feira, 21/9, pela Embrapa. A identificação botânica é a base da sustentabilidade do manejo florestal e de estratégias para a conservação das espécies florestais na região.
A publicação apresenta árvores exploradas no plano de manejo conduzido pela comunidade do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Virola-Jatobá, localizado no município de Anapu, região da Transamazônica, no Pará.
Detalhes do talho, casca externa, tronco, base, flor, fruto e características da madeira, como cor, densidade, dureza, durabilidade e escala comercial, distribuição geográfica das espécies, risco de extinção e outras informações relevantes estão reunidas em um vasto material que alia a experiência e o conhecimento das comunidades à ciência. O catálogo traz o “jeitão das arvores”, como é conhecido pelos comunitários, e o que técnicos e cientistas chamam de características físicas para a correta identificação das espécies.
Um dos grandes desafios do manejo comunitário é a identificação correta de espécies, pois comumente um único nome popular acaba agrupando diferentes espécies com madeiras semelhantes, mas com características biofísicas e valor de mercado distintos, o que traz prejuízos ao negócio da comunidade.
Um exemplo comum encontrado pelos pesquisadores durante a elaboração do catálogo é o caso da maçaranduba, espécie de grande valor para a comunidade e para o mercado. Três espécies da mesma família eram nominadas pelos identificadores locais como maçaranduba: maparajuba [Manilkara bidentata (A.DC.) A.Chev], maçarandubinha [Manilkara paraensis (Huber) Standl] e a própria marçaranbuda [Manilkara elata (Allemao ex Miq.) Monach].
“Isso acontece porque o ‘jeitão’ delas é muito parecido. Mas no mercado internacional elas têm valores diferentes. Então havia erros de identificação que prejudicavam lotes inteiros. E nosso objetivo foi trazer elementos para que a comunidade possa diferenciar essas espécies”, conta Ademir Ruschel, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental (PA) e um dos autores da publicação.
As árvores nativas presentes no catálogo foram selecionadas em razão do volume de madeira, abundância, valor de mercado e uso tradicional pela comunidade. Cada uma das 56 espécies está organizada em ordem alfabética de acordo com o nome mais popular e traz o nome científico, família, utilidades, curiosidades, detalhes de identificação e a distribuição geográfica no Brasil.
Elas são classificadas também de acordo com três escalas: risco de extinção, potencial para extração de Produto Florestal Não Madeireiro (PFNM) e aceitação comercial.
Espécies desconhecidas
O catálogo, segundo Ruschel, traz espécies desconhecidas externamente como o coco-pau (Parinari excelsa Sabine) e o melancieiro (Alexa grandiflora Ducke), cujo nome é uma referência ao cheiro de melancia exalado pela casca do tronco. “O coco-pau, aliás, dava nome a três espécies diferentes da mesma família e no catálogo conseguimos diferenciar”, conta o pesquisador.
Até espécies mais conhecidas, como jatobá (Hymenaea courbaril L.), têm erros de identificação.
“As espécies do gênero Hymenaea são muito parecidas e para a comunidade, tudo era jatobá. Mas para o plano de manejo é importante diferenciar”, afirma Ruschel.
Mas os nomes populares podem, segundo o pesquisador, ter diferenças entre as regiões do mesmo Estado. “Isso poderia ser um problema, então tentamos trazer para o catálogo os diferentes nomes populares e aqueles mais adotados pelos órgãos de fiscalização”, conta.
Acesse o catálogo no link abaixo:
Fonte: Embrapa Amazônia Oriental