Em 2023, o nível da cheia do Rio Tapajós foi menor que em outros anos. O evento é menos resultado das mudanças climáticas do que do desmatamento, na opinião do professor Roseilson do Vale, professor do curso de Ciências Atmosféricas da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em entrevista ao Tapajós de Fato.
“O que a gente vivencia hoje é resultado direto do desmatamento. Esse efeito da mata retirada, que vai ocasionar no nível e da evasão do rio, vai ser um pouquinho lento porque é integrado, o que a gente está sentindo, hoje, são efeitos das ações do passado “, explica Vale.
Para o professor, no entanto, o El Niño vai ser o evento climático mais determinante, com impactos “diretamente na chuva e, consequentemente, na vazão do rio”, assim como o desmatamento.
“Esses eventos climáticos vão trazer consequências de eventos extremos que têm se tornado mais frequentes que nos anos anteriores e já é um reflexo das mudanças climáticas”, explicou.
Como já publicamos aqui no Pará Terra Boa, essas mudanças impactam diretamente as populações tradicionais e em vulnerabilidade social.
“Observa-se que a cheia pequena contribui com doenças, já que a população é obrigada a ter o contato direto com o solo úmido, ora quente, ora frio e encharcado. Isso acontece por conta do acesso dos meios de transporte não chegarem até às residências e nem todas as famílias terem condições de ter trapiche em sua casas e por isso, precisarem andar por água ou lama”, afirma o professor.
Segundo informações da Defesa Civil do Pará, o rio costuma subir até o dia 25 do mês de maio, portanto, o que até então era comum, as principais ruas do centro estarem cobertas por água e cortadas por passarelas de madeira, este ano não ocorreu. As águas estão cerca de 70 centímetros abaixo do nível de 2022.
“As mudanças climáticas devem intensificar um padrão em que onde chove muito deve ter mais chuvas e onde chove pouco, a chuva deve diminuir ainda mais”, disse o professor.
Como já publicamos aqui no Pará Terra Boa, recentemente o desmatamento também afetou a população que vive na região do rio Arapiuns. Por conta das madeireiras que exploram madeira ilegal no território e jogam resíduos diretamente no rio, às lideranças das aldeias e comunidades do local organizaram um ato de resistência.