O ano de 2024 foi o mais quente da história, conforme o monitoramento do observatório Copernicus. Mas antes disso, 2023 também já tinha sido apontado como o ano mais quente, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM). O que essa sucessão de anos mais quentes revelam é que o mundo já passa por um processo de aquecimento que eleva os riscos de eventos extremos, com sérias consequências para o fornecimento de água potável.
O relatório Global Water Monitor Report, elaborado por uma equipe internacional de pesquisadores que analisaram dados de milhares de estações terrestres e satélites sobre o clima e a água, reforça as evidências de que secas e cheias estão cada vez mais frequentes por influência das alterações no clima.
De acordo com o estudo, somente em 2024, os totais mensais de precipitação recorde foram alcançados com 27% mais frequência do que no início deste século. Seguindo a mesma tendência, os recordes de baixa também foram 38% mais frequentes no ano passado. Como consequência desses eventos extremos, foram registradas mais de 8,7 mil mortes, 40 milhões de pessoas desalojadas e perdas econômicas estimadas em mais de R$ 3,35 trilhões.
São números que representam a dura realidade enfrentada por pessoas de várias partes do mundo. No Brasil, por exemplo, as cheias afetaram os moradores do sul do país, enquanto na Amazônia os rios baixaram a níveis recordes pelo segundo ano consecutivo e o clima seco ajudou a disseminar o fogo sobre a floresta.
Eventos extremos de diferentes portes também impactaram populações na África, Europa, Ásia e outros continentes, variando entre enchentes devastadoras e secas severas. A explicação por trás disso está na dinâmica do ar mais quente, que acelera as secas e, quando chove, retém mais umidade e faz com que chova mais forte e por mais tempo.
Segundo os cientistas, a tendência é que os próximos anos continuem sendo os mais quentes, já que a temperatura do planeta está mais de 1ºC acima dos padrões do início da revolução industrial. Eles ressaltam que o ideal seria ter agido contra as mudanças climáticas há 40 anos, mas que ainda é possível adotar medidas para que os cenários futuros não sejam mais desastrosos.
Entre as recomendações dos especialistas estão a redução imediata das emissões dos gases do efeito estufa e investimentos em adaptação para enfrentar eventos extremos. Defesas mais fortes contra enchentes, desenvolvimento de sistemas de produção de alimentos e de abastecimento de água mais resistentes a secas e melhores sistemas de alerta precoce são as principais necessidades deste novo contexto.
“A verdadeira questão não é se devemos fazer algo a respeito — é a rapidez com que ainda podemos fazê-lo”, diz o relatório assinado por pesquisadores da Austrália, Arábia Saudita, Holanda, Áustria, Alemanha, Dinamarca e China. Confira o artigo neste link.