Na corrida contra o tempo para conter os efeitos da crise do clima, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Centro de Conhecimento em Biodiversidade propõem que as estratégias de mitigação devem valorizar a conservação da vegetação nativa. O tema, que faz parte das agendas dos governos federal e estadual, é o principal ponto de um artigo publicado na quinta-feira, 23, na revista “BioScience”.
A perda de biodiversidade é grande na Amazônia. De acordo com o MapBiomas, cerca de 125 milhões de hectares do bioma já foram destruídos nos nove países da região. Na avaliação dos especialistas, a recuperação dessas áreas é necessária e deve ser promovida com uso de árvores nativas
Dentre as principais recomendações dos especialistas, estão evitar o plantio de florestas baseadas em espécies exóticas, como pinus ou eucalipto, e a promoção de um uso mais consciente da terra para atividades agrícolas, o que evitaria a expansão de áreas de cultivo.
Isso porque as florestas plantadas com espécies exóticas podem aumentar as emissões de gases do efeito estufa em virtude da diminuição da cobertura vegetal e da maior exposição do solo, que favorecem a liberação de carbono, contribuindo para ampliar o impacto de eventos extremos, como secas e enchentes.
“Ao introduzirmos um número limitado de espécies não nativas em uma determinada região, podemos, inadvertidamente, destruir a funcionalidade ecológica do ambiente, o que pode refletir na capacidade de fornecer nascentes de água, manter polinizadores para agricultura, controlar a umidade e o clima e influenciar o regime de chuvas”, alertam os pesquisadores em um trecho do artigo.
Outra recomendação dos cientistas ressalta a necessidade de promover um uso mais consciente da terra, evitando a expansão de áreas de cultivo.
Essas propostas fazem parte de um conjunto de seis pontos-chave que devem ser considerados pelas políticas de mitigação das mudanças climáticas, que inclui ainda: restauração adequada de áreas degradadas, conservação integrada de fauna e flora locais, incorporação de medidas práticas para sustentabilidade por empresas e instituições financeiras e a colaboração entre especialistas para alinhar políticas e ações necessárias aos desafios ambientais.
Em entrevista à Agência Bori, o pesquisador do INPA e um dos autores do artigo, Philip Fearnside, destacou ainda que zerar o desmatamento e a degradação da floresta remanescente na Amazônia deve ser prioridade absoluta.
“Para o Brasil, a mensagem seria a necessidade de elevar muito a prioridade de áreas desmatadas. Apesar de discurso do governo, elas ainda não são tão prioritárias quanto áreas com grandes impactos ambientais de mineração ou energia, agricultura e infraestrutura de transportes”, avaliou o cientista.
Durante a COP28, o Pará anunciou a criação do Programa Estadual de Recuperação da Vegetação Nativa (PRVN-PA), que tem a meta de restaurar 5,6 milhões de hectares no estado até 2030. Já o Plano Nacional de Vegetação Nativa (Planaveg) está em fase revisão e deve ter um papel importante para o alcance das metas climáticas do Brasil.