Um estudo conduzido por pesquisadores da Embrapa indica que 46% das doenças agrícolas se tornarão mais severas até 2100. A tendência está relacionada às mudanças climáticas, que alteram a temperatura, a umidade e o regime de chuvas nas lavouras, o que aumenta os prejuízos econômicos e dificulta o manejo no campo.
Considerando que a temperatura pode aumentar mais de 4,5 °C em algumas regiões brasileiras, os pesquisadores analisaram centenas de combinações entre lavouras e agentes causadores de doenças em 32 culturas importantes para o País, como soja, milho, café, algodão, banana e hortaliças.
“O aquecimento global terá um papel importante no aumento da população de vetores que transmitem vírus e molicutes. Esses vetores terão ciclos de vida mais curtos, viverão mais tempo e serão mais ativos, o que levará ao crescimento de suas populações e da importância dessas doenças em todas as regiões do Brasil”, diz trecho do estudo.
Nesse cenário, os fungos aparecem como os patógenos mais recorrentes, responsáveis por quase 80% dos casos avaliados. As doenças bacterianas, virais e provocadas por nematoides também podem ganhar força, dependendo da cultura e das condições climáticas de cada região.
A elevação da temperatura influencia ainda a ação de insetos que transmitem vírus e molicutes, responsáveis por doenças em lavouras como tomate, milho, banana, alface, pimentão e citros. Esses vetores tendem a se multiplicar com mais rapidez e viver por mais tempo em um clima mais quente.
Proliferação de pragas
Insetos como pulgões, moscas-brancas, tripes e cigarrinhas devem se multiplicar em todas as regiões, principalmente entre março e setembro. Eles são responsáveis por disseminar agentes causadores de doenças como o mosaico comum da mandioca, o vírus do enrolamento das folhas da batata e a murcha viral do tomate.
Com ciclos reprodutivos mais rápidos e maior resistência a variações climáticas, os insetos transmissores se tornam um desafio adicional para o controle. Segundo o estudo, a ocorrência e a intensidade dessas doenças dependerão das condições locais de clima e do manejo adotado pelos produtores.
Defensivos podem não ser suficientes
O uso intensivo de defensivos pode não ser suficiente para evitar surtos em regiões onde o clima favorecerá o aumento das populações. Por isso, os pesquisadores recomendam ações preventivas e maior integração entre monitoramento, manejo e controle biológico sempre que possível.
“A dinâmica dos fungicidas nas plantas — como penetração, translocação e degradação — pode sofrer alterações em razão das mudanças na temperatura e na precipitação, bem como por mudanças morfológicas e fisiológicas das plantas”, afirmam.
A análise reforça a necessidade de antecipar cenários e adotar estratégias de mitigação específicas para cada cultura. A mudança no clima altera não apenas a severidade das doenças, mas também sua distribuição geográfica e a resposta das plantas aos tratamentos.
Fonte: Gigante 163