A seca histórica do ano passado deixou um alerta para a vulnerabilidade da região amazônica a novos eventos extremos. De acordo com um novo estudo, a cobertura de água na porção central da Amazônia reduziu 8% nos meses de novembro e dezembro de 2023 em comparação com as demais médias mensais.
Desenvolvida por Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), o Institut de Recherche pour le Développement (IRD), da França, e a Universidade Tecnológica do Uruguai, a pesquisa foi conduzida nas bacias dos rios Amazonas, Solimões, Negro, Madeira e Tapajós com dados de sensoriamento remoto que coletam informações sob diferentes condições climáticas e até mesmo na presença de nuvens.
Com a análise de mais de 1.500 imagens da região no período entre 2017 a 2024, foi possível observar como as mudanças se manifestam e afetam diretamente as comunidades locais.
As evidências indicam que a atual estiagem pode levar a uma redução ainda mais drástica na cobertura de água. Em setembro de 2023, por exemplo, foram registrados 57.624 km² de águas abertas na Amazônia Central, enquanto que em setembro deste ano a área foi de 51.775 km², o que representa uma redução de 18%.
A estiagem é um fenômeno esperado nessa época em que a Amazônia passa pelo verão, no entanto, o que se observa nos últimos anos é a sua intensificação devido à influência de diferentes fatores.
“Houve um aumento extremo de temperatura. Em alguns lagos, o calor superou os 40 graus Celsius. Isso, somado ao aumento do desmatamento e dos incêndios florestais, contribui para intensificar e prolongar a época de seca”, explicou à Agência Bori o pesquisador do INPE Daniel Maciel, que é um dos autores do estudo.
Os rios são recursos importantes para as florestas e também estão integrados aos modos de vida das populações tradicionais, como ribeirinhos e indígenas. Por isso, as secas consecutivas são ainda mais graves, já que interferem na segurança alimentar, reduzindo a oferta de peixes e prejudicando a produção de mandioca, que é a base para a produção de farinha. O caso da mortandade de peixes na comunidade Igarapé do Costa, em Santarém, é apenas um exemplo desse impacto.
Para mitigar esses efeitos, Daniel Maciel diz que são necessárias ações que contemplem o monitoramento contínuo dessas áreas, a oferta de ajuda humanitária e a investigação de punição dos responsáveis por crimes ambientais.
“A redução do desmatamento, com controle, monitoramento e punição do desmatamento ilegal, o combate a incêndios florestais e o monitoramento em tempo real dessas ocorrências, o uso racional da água e a implementação de estratégias de longo prazo para combater as mudanças climáticas são algumas das ações importantes”, ressalta o pesquisador.