A interação entre conhecimento científico e os saberes das populações tradicionais da Amazônia é a base de uma experiência que vem promovendo a restauração florestal e a geração de renda na Volta Grande Xingu, no sudoeste paraense. Na região, entre os municípios de Vitória do Xingu e Altamira, cerca de 80 hectares à margem dos rios já foram recompostos utilizando espécies frutíferas.
O projeto é uma iniciativa de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Norte Energia em parceria com a Universidade Federal do Pará, mas que conta com o papel fundamental dos moradores locais. Em uma primeira etapa do trabalho, os ribeirinhos ficaram responsáveis pela coleta de sementes oriundas das principais árvores produtoras de frutos na região.
Depois, um viveiro para produção de mudas foi implantado na comunidade Kaituká, onde estudantes de graduação e pós-graduação atuaram junto com a população na produção de 40 mil mudas de diferentes espécies adaptadas às condições locais. O material foi doado para secretarias de meio ambiente e ribeirinhos para que sejam plantadas e auxiliem no processo de recuperação da biodiversidade.
“O principal legado que o projeto traz é realmente demonstrar para essas comunidades do rio Xingu, a necessidade de preservação das matas ciliares, das florestas que estão à margem do rio Xingu e também é uma forma de se ter um aproveitamento econômico com essa floresta em pé”, afirma Roberto Silva, gerente de meios físico e biótico da Norte Energia.
As ações foram acompanhadas ainda de uma série de atividades formativas, como oficinas, workshops e palestras que tinham como objetivo repassar informações, mas também promover a troca de experiências e a aproximação entre os produtores rurais e os pesquisadores.
Para Marlison Lima, que vive na comunidade Kaituká, a experiência foi positiva, pois permitiu repensar algumas práticas no trato com o meio ambiente.
“O meu entendimento era de um ribeirinho normal. A gente ia lá, a gente desmatava, sem saber o que tava fazendo. Quanto aos animais, a gente não tinha essa questão de preservar. Hoje, eu consigo enxergar de forma diferente. Com o aprendizado que eu tive com esse projeto, está entrando um ciclo de começar a preservar até porque o mundo tá pedindo”, comenta Marlison.
Nova alternativa econômica
Além da recuperação florestal, o projeto traz a perspectiva de incremento na atividade econômica da comunidade. Isso porque algumas das espécies plantadas, como é o caso do camu-camu, são de interesse para segmentos como o de biocosméticos. A fruta se destaca pelo seu potencial nutritivo e alta concentração de vitamina C, que chega a ser 20 vezes maior do que da acerola.
“Essa espécie é muito bem adaptada à região naturalmente e a gente pode usar ela para fazer plantios de forma natural com o método de semeadura direta. Isso pode enriquecer a região com essa espécie de forma que a população local possa fazer o extrativismo sustentável e usar para isca na pesca ou por meio de uma cooperativa revender isso para empresas”, explica Arthur Pace, que desenvolveu a pesquisa de mestrado por meio do projeto.
A ideia de exploração mais sustentável dos recursos naturais aliada à possibilidade de aumentar o rendimento anima Marlison, que sonha com a valorização do extrativismo da Volta Grande do Xingu.
“A gente espera futuramente que dê certo, que daqui pra frente elas comecem a frutificar e que esse investimento vai nos trazer algum benefício”, destaca o ribeirinho.
Por Fabrício Queiroz