As notícias para o povo paraense e todo brasileiro não são boas nesta sexta-feira 6/5. O desmatamento na Amazônia Legal teve um aumento catastrófico e a área de alertas em abril chegou a 1.012 km², um número 74% maior que o recorde anterior da série histórica, de 580,5 km² registrados em abril do ano passado. Nosso Pará figura em segundo lugar, com destaque para focos de desmatamento em Altamira, sempre Altamira. Em primeiro, o Amazonas e, em terceiro, Mato Grosso.
Os alertas são do Deter, sistema do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), que apontam para um total de 1.013 km² de áreas desmatadas entre dias 1º e 29 de abril.
Em segundo lugar, o alerta de desmatamento detectado em Altamira foi de 94.02 km², enquanto o primeiro tem 107.05 km² e está localizado em Lábrea (AM). O terceiro está em Apuí (AM), com 86.62 km². Novo Progresso (PA) aparece em quinto, com 67.07 km² de alerta, Itaituba em sexto com 42.02 km² e São Félix do Xingu, em décimo, com 30.71 km².
A degradação no Amazonas se deve à explosão da grilagem na região, por causa da tentativa do ex-ministro da Infraestrutura e hoje candidato ao governo paulista, Tarcísio Freitas, de pavimentar na marra a BR-319 (Manaus-Porto Velho). A estrada corta uma das áreas mais intocadas da floresta amazônica e estudos indicam que seu asfaltamento quadruplicará a devastação.
Comparada à média dos seis anos anteriores para abril, a área de alertas é 165% maior, mesmo em plena estação chuvosa. Esta é a primeira vez na história do sistema Deter-B, do Inpe, que os alertas mensais de desmatamento ultrapassam 1.000 km² no mês de abril. Isso é grave porque abril ainda é o nosso inverno amazônico.
Para Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, “as causas desse recorde têm nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro”. Astrini diz que o presidente “triunfou em transformar a Amazônia num território sem lei, e o desmatamento será o que os grileiros quiserem que seja”. O chefe do Palácio do Planalto costuma dizer que “a Amazônia não pega fogo” porque é úmida.
Antes do governo Bolsonaro, era raro um dado mensal de alertas ultrapassar 1.000 km² até mesmo na estação seca. Infelizmente, o dado de abril se refere a apenas 29 dias. O mês ainda não fechou nas medições do Inpe, portanto, o número final será maior que 1.012 km².
Olhar com cautela
Alertas mensais de desmatamento precisam necessariamente ser olhados com cautela por uma série de motivos. Primeiro, o sistema Deter não é feito para medir área desmatada, e sim para orientar o trabalho do Ibama (que, como é sabido, não tem ocorrido durante o regime Bolsonaro devido ao desmonte do órgão promovido pelo governo). O Deter é ágil, mas seus satélites são “míopes”, sendo incapazes de enxergar pequenas áreas desmatadas. O dado oficial é informado pelo sistema Prodes, mais lerdo, porém acurado, uma vez por ano.
Depois, as detecções mensais do Deter são muito atrapalhadas por nuvens, em especial nos meses de novembro a abril, quando a floresta está debaixo de chuva. Há uma chance grande de o número de alertas de abril incluir desmatamentos dos meses anteriores que não puderam ser vistos pelo satélite por estarem sob nuvens. No fim de cada mês, o Inpe informa o percentual da floresta que estava encoberto. O de abril será conhecido na semana que vem.
Feitas essas ressalvas, a magnitude do dado surpreendeu os técnicos e sinaliza que a taxa de desmatamento de 2022 deverá ultrapassar novamente os 10.000 km².
Fontes: Congresso em Foco e Observatório do Clima