Somente no mês de setembro, as queimadas consumiram 5.825.520 hectares no Brasil. Essa área representa 50% de tudo que foi queimado nos nove primeiros meses de 2022. Os dados são do mais recente relatório do Monitor do Fogo do MapBiomas.
O Pará concentra os três municípios recordistas em queimadas: São Félix do Xingu, Altamira e Novo Progresso, pivô do Dia do Fogo, em 2019, são responsáveis pela destruição de 1.052.700 de hectares, o que equivale a 9% do total nacional nos nove primeiros meses de 2022.
O aumento foi de 158% em relação a 2021, quando esses municípios em 2021 queimaram juntos 407.212 hectares. Somente em setembro de 2022, os municípios de São Félix do Xingu e Altamira permanecem como os que tiveram maior área queimada.
Segundo levantamento feito pelo site “De Olho nos Ruralistas”, em 2020, o prefeito de Novo Progresso é uma das pessoas que acumulam um dos maiores montantes de multas por causar prejuízos à Floresta Nacional do Jamanxim. De acordo com a apuração, Gelson Luiz Dill foi autuado pelo Ibama em mais de 6 milhões de reais por destruir áreas de floresta nativa na Flona. Procurado pela reportagem para explicar o caso, o prefeito se limitou a dizer que as acusações são falsas e que irá provar isso na Justiça. Ele também negou possuir propriedade nos limites da Flona.
Bioma mais afetado
O bioma com maior extensão queimada em setembro foi o Cerrado (2.973.443 ha queimados, 13% a mais que no mesmo mês de 2021). A Amazônia, por sua vez, foi o bioma com maior aumento de área queimada em relação ao mesmo mês de 2021: 71% (1.080.388 ha a mais). Na comparação com agosto deste ano, o aumento foi de 52%, no caso da Amazônia, e de 149%, no Cerrado.
Com estes números, o Brasil acumulou um total de 11.749.938 hectares queimados entre janeiro e setembro deste ano – uma área maior que todo o estado de Pernambuco. Uma área similar a que foi afetada pelo fogo no mesmo período de 2021 – um aumento de 1%.
Mas por trás dessa aparente estabilidade há grandes variações. Houve um crescimento na área queimada de 40% na Amazônia (mais de 1,6 milhões de hectares) e de impressionantes 1.500% no Pampa (27.317 hectares). Praticamente metade das queimadas entre janeiro e setembro deste ano (49%, ou 5.797.298 ha) ocorreu no bioma Amazônia.
Porém a situação do Cerrado mostra-se mais preocupante. Embora tenha a metade do tamanho da Amazônia, ele ficou bem perto dos números amazônicos (46%, ou 5.408.154 ha). Juntos, eles somam 95% da área queimada no Brasil até setembro de 2022.
Quase um terço (29%, ou 1.698.583 ha) do que foi queimado na Amazônia afetou florestas, sendo incêndios ou desmatamento seguido de fogo. Esse número é 106% maior do que a área de floresta afetada por fogo no bioma no mesmo período em 2021 (826.107 ha).
“Importante ressaltar que esse aumento da área de incêndios florestais na Amazônia em 2022 é um péssimo indicador para a região, pois essas florestas não são adaptadas ao fogo e acabam ficando mais suscetíveis a novos incêndios se tornando degradadas”, afirma Ane Alencar Coordenadora do Mapbiomas Fogo e Diretora de Ciência do IPAM.
O crescimento das queimadas em florestas no Brasil foi de 34%, com cerca de 2 milhões de hectares (1.942.949 ha). A quase totalidade (87%) desses incêndios florestais ocorreram na Amazônia. Em todos os biomas, as queimadas ocorrem preferencialmente em áreas de vegetação nativa em formações savânicas e campestres, que responderam por 69% da área queimada no período no Brasil. Dentro os tipos de uso agropecuário, as pastagens se destacaram, representando 25% da área queimada nos nove primeiros meses de 2022.
“O padrão de queima de formações savânicas e campestres tem dominado as estatísticas de área queimada no Brasil. Isso acontece pois esses tipos de vegetação tem um regime de fogo associado. Entretanto temos que ficar alerta pois parte desse fogo está acontecendo com frequência e intensidade diferente do regime esperado para esses ecossistemas” afirma a coordenadora operacional do Mapbiomas Fogo e pesquisadora do IPAM Vera Arruda.
Trinca Tocantins, Mato Grosso e Pará
Enquanto Amazônia e Pampa tiveram aumento, o Pantanal apresentou a menor área queimada nos últimos quatro anos, com 83% de redução na comparação do período entre janeiro e setembro de 2022 com o ano anterior. Todos os estados recordistas em queimadas ficam em fronteiras agropecuárias, sendo que Mato Grosso foi o estado que mais queimou nos primeiros 9 meses de 2022, concentrando quase ¼ do que foi queimado no Brasil nesse período.
Pará e Tocantins ocupam o segundo e o terceiro da posição no ranking. Juntos, esses três estados representaram 57% da área queimada total afetada no período. Mas quando se considera apenas o bioma Cerrado, os estados que mais queimaram entre janeiro e setembro de 2022 são Mato Grosso, Tocantins e Maranhão.
Números de setembro de 2022:
- 5.825.520 hectares queimados – área que representa 50% do que foi queimado em 2022. Esse número foi 9% maior do que no mesmo mês em 2021 (520.553 mil ha a mais).
- 71% da área queimada foi em vegetação nativa, a maioria em formações naturais e florestas.
- Dentre os tipos de formações naturais, as formações savânicas foram as mais afetadas pelo fogo: 32% da área queimada.
- O bioma com maior área queimada foi o Cerrado, com 2.973.443 ha queimados, 13% a mais que no mesmo mês de 2021.
- Amazônia foi o bioma com maior aumento de área queimada em relação ao mesmo mês de 2021, com 71% de aumento (1.080.388 ha a mais).
- Os municípios de São Félix do Xingu e Altamira foram os que tiveram maior área queimada.
Fonte: Monitor do Fogo: O Monitor do Fogo é o mapeamento mensal de cicatrizes de fogo para o Brasil, abrangendo o período a partir de 2019, e atualizados mensalmente. Baseado em mosaicos mensais de imagens multiespectrais do Sentinel 2 com resolução espacial de 10 metros e temporal de 5 dias. O Monitor de Fogo revela em tempo quase real a localização e extensão das áreas queimadas, facilitando assim a contabilidade da destruição decorrente do fogo. Acesse o Monitor do Fogo