A expansão de atividades produtivas na Amazônia levou à redução das áreas de floresta nativa na região. O passivo ambiental de áreas ocupadas pela agricultura e pecuária preocupa, mas a ciência tem demonstrado que a própria floresta oferece soluções para esse problema, como é o caso da regeneração natural.
A doutora em Ecologia e pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental Joice Ferreira explica que há diferentes estratégias contempladas no conceito de restauração, que visa a retomada das condições de qualidade ambiental de uma determinada área. Uma delas é a restauração ecológica em que se utiliza técnicas para recuperar as características de um sistema de modo a torná-lo mais próximo do original. Nessa abordagem pode ser realizada a semeadura ou plantio de mudas, por exemplo.
Por sua vez, na regeneração propõe permitir que a recuperação ocorra livremente na área degradada, o que representa um custo menor em relação a outros procedimentos e menos necessidade de mão-de-obra. Apesar disso, é permitido fazer intervenções, como limpeza de plantas competidoras e adubação.
“Não precisa fazer nada, é só parar de usar a sua área como agrícola. Os agricultores da Amazônia já fazem tradicionalmente em uma prática chamada de pousio, que é quando se deixa o local em repouso para acumular nutrientes e folhas, que vão enriquecendo o solo que pode ser utilizado depois de alguns anos”, comenta a pesquisadora.
A perspectiva da regeneração tem sido valorizada nas pesquisas de diferentes pesquisadores ao longo das últimas décadas. Um dos dados revelados pelo conhecimento acumulado é que a floresta é capaz de recuperar a biomassa e a absorção de carbono, principalmente em áreas que não passaram por usos intensivos ao longo da história.
“O processo depende da região. No nordeste paraense, onde teve a primeira colonização praticamente não tem floresta primária, então a recuperação é mais devagar e pode precisar de alguma ajuda. Já em outras regiões não precisa de intervenção nenhuma porque quanto mais floresta primária tem por perto, mais tem animais dispersores e sementes. Dessa forma, a floresta tende a se recuperar mais rápido”, explica Joice Ferreira, destacando o potencial do oeste do Pará como área propícia para a regeneração natural.
Floresta secundária em 10 anos
Os dados de pesquisa revelam também que, em geral, é possível ter uma floresta secundária bem desenvolvida em cerca de 10 anos, porém vale ressaltar que os serviços ecossistêmicos se tornam mais relevantes em florestas mais maduras.
Para Joice Ferreira, é preciso entender também que há fatores que podem limitar a recuperação e crescimento da vegetação, como o clima mais seco e a retomada da exploração das áreas em alguns casos. Ainda assim, ela considera que a sua adoção deve ser incentivada nas políticas públicas.
“O tipo de estratégia de recuperação vai depender do produtor. Os princípios da restauração são os mesmos, independente de ser uma área de pecuária, de roça ou uma mata ciliar. O uso que se faz do terreno pode influenciar na rapidez de retorno da floresta, mas o importante é ressaltar que ela representa um custo-benefício muito melhor para o produtor do ponto de vista econômico e ambiental”, afirma a pesquisadora.
Por Fabrício Queiroz