O exemplo de gestão sustentável de uma reserva na comunidade Tumbira, a cerca de 64 km de Manaus (AM), ganhou o mundo e as telas no último domingo, 22. O projeto de turismo de base comunitária desenvolvido na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro foi pauta de um quadro do Domingão do Huck, da TV Globo. Apresentado por Luciano Huck, o programa deu destaque para a trajetória do ex-madeireiro Roberto Brito, que abandonou a extração para investir nos atrativos da floresta em pé.
A história de Roberto é como a de muitos amazônidas que foram educados com a perspectiva de que a única forma de sobreviver era com a exploração predatória dos recursos naturais. Ele foi madeireiro ao longo de 26 anos e, nesse período, estima que derrubou aproximadamente 60 mil árvores.
Mas tudo mudou a partir de 2010, quando a comunidade Tumbira passou a ser protegida como unidade de conservação. Com a criação da reserva, ilegalidades passaram a ser mais combatidas e outras atividades passaram a ser promovidas pela população, desde que fossem conciliadas com o uso sustentável da floresta nativa.
“Como madeireiro, foi um espanto. A minha atividade era essa. Como é que eu vou ter que parar e sobreviver? Só que a reserva tinha duas palavras atrás que me dava esperança, que era desenvolvimento sustentável, ou seja, a gente pode desenvolver e sustentar. Era isso que nós estávamos querendo”, conta o ex-desmatador, que viu surgir novas oportunidades com o aproveitamento do potencial turístico da localidade.
Roberto reformou um antigo imóvel da família e passou a oferecer hospedagens para os visitantes que desejam ter um contato mais próximo com a população e seu modo de vida tradicional. A Pousada do Garrido é apenas um exemplo dos novos modelos de negócios criados pelas 38 famílias do RDS Rio Negro, que passou a ser beneficiado também com investimentos em infraestrutura de transporte, educação, saúde e comunicação.
“Olhando pra atividade que eu fazia e o que eu faço hoje, é da água para o vinho”, avalia o empreendedor
Ele afirma que a pousada representou também uma mudança qualitativa para sua família em termos de renda.
“Eu tive resultado positivo rápido. Deu um resultado em 6 meses que meu pai esperava quase a vida toda pra ter isso e não teve. O meu avô morreu e também não teve”, acrescenta.
A história inspiradora de Roberto Brito marcou a estreia do novo quadro do Domingão do Huck denominado “Fazer o bem não importa a quem”. Na exibição, ele foi convidado a viajar com o apresentador até a Patagônia, no Chile, para compreender a relação do desmatamento na Amazônia com o derretimento das geleiras. Estima-se que apenas a geleira de San Rafael, visitada pelo empresário, perdeu mais de 2 km de seu volume nos últimos 39 anos.
“Nós estávamos acabando com a nossa riqueza sendo pobre. Hoje, nós podemos usufruir daquilo que Deus deu: a natureza perfeita com as pessoas lá dentro”, sintetizou Roberto durante sua participação no Brazil Climate Summit 2023, ocorrido em setembro nos Estados Unidos.
Por Fabrício Queiroz