“Como o modelo da Belo Sun é de cava aberta e prevê, em 18 anos, explorar 205 mil onças de ouro [cerca de 5.800 kg], isso deve emitir cerca de 3 milhões de toneladas de carbono. É um retrocesso para a conservação da biodiversidade, para o clima, os direitos humanos e a autonomia dos povos indígenas”, afirma Gabriela Sarmet, assessora de campanhas da Amazon Watch para o Brasil, ao jornal.
A Amazon Watch trouxe a Montreal um relatório sobre os impactos do projeto de mineração da Belo Sun, com a intenção de convencer investidores a não financiar o projeto Volta Grande —cuja licença prévia do licenciamento ambiental foi suspensa pela Justiça em maio por falta de consulta a comunidades impactadas pela obra, informa o jornal.
“Pelo menos 1.700 km2 de floresta amazônica ficam ameaçadas pelo projeto. O desmate pode ser até 12 vezes maior do que a área de exploração mineral”, completa Sarmet, destacando que os rejeitos tóxicos devem contaminar pelo menos 41 km do rio Xingu e, nos cenários mais drásticos, chegar ao rio Amazonas e ao oceano Atlântico.
O projeto deve ser instalado a menos de 50 km da barragem principal da usina hidrelétrica de Belo Monte, cujo desvio do rio Xingu afetou as comunidades indígenas da região.
Pressão
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) participa do evento para pautar a demarcação das Terras Indígenas (TIs) como prioridade na meta de conservar – pelo menos – 30% dos ecossistemas e recuperar terras degradadas no mundo até 2030.
A delegação, que conta com cinco lideranças, reforça que a meta da Conferência precisa ser mais ambiciosa na quantidade de áreas protegidas, sobretudo neste momento que o Parlamento Europeu apresentou texto da lei antidesmatamento que desconsidera a proteção dos direitos internacionais dos povos indígenas e de todos os biomas que não sejam florestas.
Um cruzamento de dados realizado pela APIB, em parceria com IPAM, utilizando a localização das Terras Indígenas no Brasil junto com os dados sobre mudanças de uso do solo, 29% do território ao redor das TIs está desmatado, enquanto dentro das mesmas só tem 2% de desmatamento.
O mapeamento mostra que a maior parte das áreas desmatadas está destinada a pastagens para criação de gado (para exportação de carne e de couro) e a produção de soja, mas também destacam plantações de cana, arroz ou algodão, entre outras commodities.
“Muitas mineradoras internacionais e financiadas por bancos internacionais, incluindo as canadenses, estão causando muita destruição e gerando conflitos graves nos nossos territórios. Reconhecer e proteger nossos direitos às nossas Terras Indígenas é a maneira mais eficaz de garantir que nossa preciosa biodiversidade permaneça de pé.”, afirma Puyr Tembé, coordenadora da Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (Fepipa) e da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga).
Fonte: Folha de S.Paulo e Apib