A transição energética se tornou um tema central na agenda dos países e grandes empresas que vislumbram as potencialidades das alternativas de geração de energia com menos emissões de gases do efeito estufa. Enquanto o desenvolvimento de tecnologias e investimentos avança, organizações da sociedade ainda clamam por mais espaço nesse debate trazendo à tona os riscos sociais e as carências dos sistemas atuais.
Esses foram alguns dos pontos tratados no painel “Desafios e oportunidades na geração de energia na e para a Amazônia brasileira”, realizado nesta segunda-feira, 4, na COP28, em Dubai. A proposta era ouvir os povos e comunidades tradicionais da região para tratar de aspectos como o combate ao racismo ambiental, a descarbonização da matriz energética e a distribuição do recurso para essas populações.
A coordenadora do Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns (CITA), Auricélia Arapiun, lembrou que esta é uma questão há muito tempo discutida pelas populações locais e que traz à tona muitos problemas e temores, sobretudo atualmente quando a construção da Usina Hidrelétrica de São Luís do Tapajós, no oeste do Pará, volta aos planos do governo.
Para ela, é um contrassenso pensar em transição energética com projetos como esse que representam impactos socioambientais diversos para a Amazônia.
“Esse desenvolvimento não é pra nós nem nunca será. Nós ainda usamos geradores que poluem, não é nada sustentável. A gente vai continuar lutando para que o rio Tapajós e seus afluentes continue vivo, afinal é um dos últimos rios que ainda não foi barrado na Amazônia”, disse Auricélia.
Rios com menos volume de água
Por sua vez, o coordenador geral do Mapbiomas, Tasso Azevedo, apresentou dados que evidenciam o quanto o futuro dos projetos energéticos que utilizam os recursos hídricos da região é incerto. As pesquisas indicam que nos últimos 35 anos, a superfície de água da Amazônia recuou em média 9%, o que representa uma perda de aproximadamente 1,5 milhão de hectares de cobertura de água.
Diante desse cenário, a professora da Universidade Federal do Pará, Lise Tupiassu, ressaltou que é preciso que os planos de transição energética se pautem na busca de soluções que venham do território, na construção coletiva e na valorização das peculiaridades locais.
Na avaliação da professora, é preciso criar um mosaico de soluções e não uma única matriz, pensando em alternativas, como a biomassa a partir da floresta e a geração de energia solar, além das questões que envolvem a conectividade desses sistemas às pessoas que necessitam.
O painel foi promovido pela organização Uma Gota no Oceano e contou ainda com a participação do coordenador geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Toya Manchineri; da presidenta da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (FEPOIMT), Eliane Xunakalo; da coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Kátia Penha; e do gerente de Projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), Ricardo Baitelo.
Por Fabrício Queiroz